Maré de mudança: veja casos inspiradores de conservação do oceano
Na próxima semana, diversos líderes mundiais seguirão reunidos em Cali, na Colômbia, na COP16, com a missão de discutir e resguardar a biodiversidade do planeta. Os desafios são enormes e complexos, mas aqui vão alguns exemplos para nos inspiramos e lembrar que estamos no caminho.
O Arquipélago dos Açores recentemente criou a maior área marinha protegida do oceano Atlântico Norte. A cadeia de nove ilhas no oceano Atlântico faz parte de Portugal e conseguiu estabelecer 287 mil quilômetros quadrados de áreas marinhas protegidas. Agora, 30% das águas açorianas são totalmente protegidas ou altamente protegidas (quando atividades consideradas impactantes, como a pesca industrial, são proibidas). O anúncio veio em bom momento, já que foi na última COP da Biodiversidade, em 2022, que se estabeleceu o compromisso de criar unidades de conservação para ao menos 30% do oceano. Hoje, 8% é protegido de alguma forma.
As iniciativas de conservação do oceano de maior sucesso são aquelas onde os protagonistas são as comunidades tradicionais locais. Em Madagascar, ilha do oceano Índico, uma primeira unidade de conservação estabelecida por pescadores locais teve tanto sucesso que levou à criação de mais 14 outras. Tudo começou quando uma vila de pescadores que dependiam da pesca de polvo resolveu proibir a captura, por apenas seis meses, em uma pequena porção do seu território. Ao reabrir a área após o período, as capturas aumentaram muito: imagine uma conta bancária em que você tira metade do seu saldo todo mês, mas no mês seguinte o saldo cresceu de novo! Logo, vilas vizinhas começaram a adotar o mesmo modelo e assim se construiu uma rede conhecida como 'Áreas Marinhas Geridas Localmente'.
Outro ótimo exemplo de gestão vem do litoral sul de São Paulo, onde comunidades caiçaras da Ilha do Cardoso assumiram a gestão de parte do parque estadual. Quando foi estabelecido, em 1983, o parque surgiu como ameaça: as comunidades tradicionais que estavam ali há séculos deveriam ser expulsas, pois o governo tinha decretado a área como local de proteção integral, sem ocupação humana. Os locais se organizaram e resistiram, não deixaram seu território e, ao longo de décadas, mostraram como seu modo de vida tradicional compõe a beleza sociocultural do local. Mas a situação precisou piorar antes de melhorar: em 2016, surgiu uma proposta para uma parceria público-privada em que o parque passaria para a gestão de uma empresa privada. A solução foi uma contraproposta: uma parceria público-comunitária. Em 2023, a associação de moradores passou a gerir o Núcleo Perequê do parque - afinal, quem melhor do que aqueles que estavam ali antes para apresentá-lo aos visitantes?
A verdade é que, se a conservação do oceano dependesse apenas de pessoas como nós, de acadêmicos a cidadãos comuns, estaríamos numa situação ainda mais complicada. Temos muito a aprender com as comunidades tradicionais, os verdadeiros guardiões e guardiãs de nossas praias, mangues, dunas e recifes. Assim como os povos da floresta, os povos litorâneos tem as soluções. Que os líderes mundiais aceitem ouvi-los.
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