Beatriz Mattiuzzo

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Opinião

Sobreviver não tá sendo pouco: que 2025 seja mais que um 'feliz ano novo'

O fim de 2024 vem com um gostinho amargo especial para quem acompanha a pauta ambiental. Não só tivemos o ano mais quente já registrado, mas os brasileiros viram o país dividido entre fogo e água.

Terminamos o ano com alguns traumas novos: para alguns, de água e chuvas, após vermos um estado quase inteiro debaixo d'água; para outros, foram a seca e o fogo que levaram embora grandes porções dos nossos biomas, junto com a fumaça que acabou com nossa qualidade do ar.

Um ano 1,6°C mais quente que os níveis pré-industriais - quase o mesmo 'um grau e meio' que tantos acordos e conferências vêm tentando brecar sem muito sucesso. Em 2024, tivemos um gostinho (temporário, espero) do que é viver no futuro de um planeta mais quente. Ninguém saiu feliz - não foi só o Brasil que sofreu com eventos extremos.

Nesse cenário em que é difícil ficar feliz de verdade e que a ecoansiedade grita, tem quem diga que a gente apenas não vê o lado bom das coisas mais. Fazendo esse exercício, aqui vão alguns motivos para ficar "feliste", ou seja, feliz e triste ao mesmo tempo, na praia nessa virada:

O maior defensor de baleias do mundo foi solto! Paul Watson, fundador da Sea Shepherd, foi preso sob condições um tanto injustas - mas após 5 meses em detenção na Dinamarca e muita pressão internacional, o capitão passará o fim do ano em liberdade.

E por falar em baleias, as baleias-jubarte deram um show em 2024! Após décadas de esforços de conservação, esse mamífero tão caçado que chegou a ter a população reduzida a apenas centenas de indivíduos está voltando à população original próxima de 30 a 40 mil animais.

O aquecimento do oceano também afetou os recifes de corais. Embora ocupem de fato uma porção muito pequena do oceano, eles sustentam pelo menos 25% das espécies marinhas e são fundamentais desde a proteção costeira até a manutenção das cadeias alimentares humanas e marinhas. Com o aquecimento anormal, 77% dos corais do mundo apresentaram branqueamento em 2023 e 2024 - mas corais branqueados não são corais mortos, e podem se recuperar. Ao que tudo indica, o pior da crise já passou e alguns recifes já demonstram melhora - e recifes mais interconectados têm melhores resultados. De novo, é uma prova de que os esforços de conservação são eficientes e importam.

E, se você conseguir curtir uma praia ainda em 2024, lembre-se de que ela é pública - e isso é uma conquista! Esse ano tivemos fortes movimentações de projetos de lei que na prática poderiam privatizar um bem que no Brasil é público. O assunto rendeu até briga das celebridades nas redes sociais, e já tinha caído no esquecimento quando a pressão da sociedade civil mais uma vez conseguiu impedir que a votação da PEC 03/22 andasse.

Conforme o verão mais fresco do resto das nossas vidas se aproxima, desejar um feliz 2025 parece um tanto raso. Mas que seja feliste, que a gente encontre momentos de felicidade e se lembre das conquistas, que os esforços de conservação e manifestações públicas fizeram a diferença e que sobreviver não tá sendo pouco.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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