Olha o milho... é transgênico
Curau, canjica, pamonha, mugunzá, milho assado, pipoca e bolo de milho são algumas comidas típicas das festas juninas que sempre deixaram o mês de junho mais apetitoso. Que cereal versátil e delicioso!
As festas de São João celebradas no Brasil são herança portuguesa com toque indígena, pois na Europa, os portugueses comemoravam a colheita do trigo a partir do mês de junho. Como não havia trigo em terras brasileiras, os portugueses adotaram o milho cultivado pela população indígena. Segundo a tradição nordestina do plantio de milho, a semente é plantada no dia de São José, 19 de março, para ser colhido no dia de São João, no final de junho.
Atualmente, o Brasil celebra o milho não só nas festas juninas, mas também na Bolsa de Mercadorias e Futuros com as safras anuais para exportação (em 2019, o Brasil se tornou o maior exportador de milho do mundo, superando inclusive os Estados Unidos, com embarques de 44,9 milhões de toneladas). Esta realidade seria tolerável se 90% do milho cultivado não fosse transgênico, se 20% dos agrotóxicos utilizados no nosso país não estivessem no milho, se seu cultivo em monoculturas transgênicas não empobrecesse o solo, não desmatasse o nosso Cerrado e não estimulasse a fome mundo afora.
O debate sobre transgênicos é amplo e apesar de não haver estudos científicos que garantam que os transgênicos não façam mal à saúde humana, não vou debater sua segurança nutricional. Existe outra problemática com os transgênicos que me incomoda mais nos dias atuais: o patenteamento!
A semente do milho geneticamente modificada recebe um gene de outro organismo e essa alteração no seu DNA permite que mostre uma característica que não tinha antes. No caso do milho, a semente transgênica cria resistência a herbicidas e a insetos, supostamente facilitando o trabalho do agricultor. Na natureza, sempre ocorreram (e ainda ocorrem) alterações ou mutações naturais. No caso da transgenia, essa mutação é artificial.
As sementes naturais, ancestrais, criolas são guardadas e passadas de geração em geração para garantir o plantio e o sustento de muitas famílias, além de preservar a diversidade no campo. Uma vez que a semente se torna propriedade privada obrigando os agricultores a pagarem royalties (direito à exploração comercial) às empresas donas das sementes, produzir alimentos se torna muito mais difícil. Esta dependência dos agricultores para com as multinacionais donas de sementes intensifica a disparidade social entre os produtores rurais e afeta o agricultor financeira e psicologicamente, tornando muitas vezes sua profissão inviável.
Herdamos também de Portugal, do tempo da colonização, a produção de monoculturas para exportação como a cana-de-açúcar e o café. Esse sistema produtivo se replica e se intensifica com subsídio do governo para fortalecer a economia nacional como é o caso da soja, do milho, do café e do açúcar por exemplo. As monoculturas em larga escala, apesar de produzirem toneladas de commodities, não alimentam quem realmente precisa. Um país que tem como prato nacional o arroz e o feijão precisa importar feijão da Argentina para alimentar sua população, enquanto exporta soja para alimentar os porcos na China. Então é sempre bom lembrar que queremos comida, não commodities que enriquecem o bolso de poucos deixando tantos brasileiros com fome. Portanto, motivos para celebrar a safras do milho são poucos ou quase nenhum, mas continuemos celebrando São João e os guardiões das sementes de milho criolas.
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