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Influenciadores: aliados ou vilões do combate à emergência climática?

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As redes sociais mudaram drasticamente a maneira como a sociedade se informa e molda opiniões sobre diversos temas. Em muitas partes do mundo, os influenciadores digitais estão tomando o espaço dos veículos de imprensa como principal fonte de notícias.

Essa influência levanta uma série de preocupações. O alcance massivo dos influenciadores muitas vezes carece de preparo adequado para lidar com questões sensíveis, podendo resultar em sérias consequências na sociedade. Isso vai desde a disseminação de conteúdos de saúde sem base científica, como visto durante a pandemia da covid-19, até a desinformação climática.

A desinformação sobre mudanças climáticas é uma enorme barreira no enfrentamento da crise climática que vivemos e muitos influenciadores acabam se tornando protagonistas na disseminação de informações falsas ou equivocadas.

Em "Nem sequer pense nisso: por que nossos cérebros estão programados para ignorar as alterações climáticas?" (Don't Even Think About It: Why Our Brains Are Wired To Ignore Climate Change), o autor George Marshall aborda os aspectos psicológicos, sociais e comunicativos que moldam nossa resposta às mudanças climáticas.

Entre vários desafios, o autor enfatiza a importância da comunicação eficaz, em que o mensageiro muitas vezes importa mais do que a mensagem em si.

Por publicarem conteúdos com frequência, compartilharem aspectos da vida pessoal e interagirem com o público, os influenciadores acabam construindo uma relação de confiança e reciprocidade com o público. Isso faz com que as mensagens sejam recebidas pelos seguidores como se fossem de um amigo.

E eles geralmente possuem talento para adaptar e simplificar informações para um público específico, tornando-as mais envolventes e acessíveis. Quando bem orientados, podem ser grandes aliados da ciência do clima e do enfrentamento à emergência climática.

Quando pensamos na comunicação sobre a mudança climática, tipicamente imaginamos cientistas ou especialistas dando explicações com gráficos complexos e usando jargões técnicos. No entanto, números e gráficos não se comunicam sozinhos, especialmente para o grande público que precisa ser alcançado.

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Nos últimos anos, a pauta climática ganhou espaço na mídia, com os impactos da crise se tornando cada vez mais perceptíveis. Segundo uma pesquisa do Datafolha, 97% dos brasileiros reconhecem mudanças climáticas no seu cotidiano.

Mas toda essa conscientização ainda não se reflete em um engajamento efetivo contra as causas das mudanças climáticas, que são principalmente a indústria dos combustíveis fósseis —petróleo, carvão e gás natural—, além do desmatamento e da agropecuária. A sociedade não deve permanecer relativamente apática diante dessas ameaças catastróficas.

A colaboração entre cientistas, jornalistas e influenciadores digitais

O papel e a responsabilidade dos influenciadores nos ecossistemas de informação ainda necessitam de definições e regulamentações apropriadas. Contudo, dada essa realidade, a colaboração deles com jornalistas e cientistas se faz necessária e pode ter um impacto positivo significativo.

existem algumas iniciativas que ajudam ou incentivam influenciadores a comunicar a crise climática. A ONU, por exemplo, lançou uma campanha com a propósito para promover o programa de comunicação 'Verificado pelo Clima', visando engajar influenciadores no combate à desinformação.

Outras iniciativas, como o TILT- The Influencer Lab for Tomorrow, oferecem apoio, oportunidades de colaboração e capacitação.

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Mas essa não é uma tarefa simples. É importante reforçar que não basta apenas distribuir fontes de informação e relatórios científicos para os influenciadores; é fundamental adaptá-los e, às vezes, simplificá-los ao perfil do influenciador, para que compreendam claramente e se sintam seguros ao transmitir as mensagens de forma correta e eficaz.

E mesmo os mais preparados podem se beneficiar de apoio adicional e orientação para seus conteúdos, dado o ritmo acelerado da internet, onde muitos trabalham sozinhos ou com equipes muito pequenas.

Infelizmente, esse tipo de apoio disponível ainda está longe de ser suficiente. E ainda há um longo caminho a percorrer em termos de conscientização entre os influenciadores.

Lidar com a emergência climática e construir um futuro sustentável requer o envolvimento ativo da sociedade, desde a mobilização de grupos e comunidades até o exercício de pressão política. A comunicação eficaz desempenha um papel crucial nesse processo. Não podemos deixar a responsabilidade de comunicar as mudanças climáticas apenas nas mãos de cientistas.

Seja através de cientistas, mídia tradicional, influenciadores digitais ou celebridades, todos têm um papel importante a desempenhar desde que assumamos este compromisso com seriedade.

*Cynthia Soneghet é formada em comunicação social pela Faesa, fez pós-graduação em comunicação digital na ECS de Bruxelas e é realizadora do programa TILT

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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