Carlos Nobre

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Aquecimento global: concentração de CO2 cresceu mais de 50% em 250 anos

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De acordo com avaliações científicas, o início da formação da terra ocorreu há cerca de 4,6 bilhões de anos e, até próximo da metade de sua existência, a atmosfera do planeta era inóspita para muitas das formas de vida. Sua atmosfera primitiva possuía, dentre outros gases menos abundantes, hidrogênio (H), amônia (NH3), vapor d'água (H2O), metano (CH4), sulfeto de hidrogênio (H2S) e gás carbônico (CO2, este em quantidade bem superior à dos dias de hoje).

Estima-se que o oxigênio (O2) só começou a ser formado há 2,3 bilhões de anos, por cianobactérias que, através da fotossíntese, passaram a consumir CO2 e produzir O2. Posteriormente surgiram mais duas fontes geradoras de O2, as algas verdes, há cerca de 1,5 bilhão de anos, e as florestas, há cerca de 400 milhões de anos.

Com o consumo de CO2 e a produção mais abundante de O2 pelas algas e florestas, foi possível atingir as condições para a evolução dos primeiros vertebrados, há aproximadamente 400 milhões de anos. Posteriormente, há cerca de 200 milhões de anos, o O2, sem o qual não sobrevivemos por mais de poucos minutos, atingiu os níveis atuais. E, há aproximadamente 200 mil anos, surgiram nossos primeiros ancestrais. Atualmente nossa atmosfera é rica em nitrogênio (N2), com 78%, e O2, com 21%. O CO2 faz parte do cerca de 1% dos demais gases menos abundantes.

Nota-se que ao longo de bilhões de anos houve uma sequência de eventos que criaram as condições climáticas ideais para habitarmos este planeta. Mas, principalmente nos últimos 250 anos, estamos destruindo um meio ambiente cuja evolução para abrigar a vida levou bilhões de anos.

As florestas, que surgiram há 400 milhões de anos, são essenciais à estabilidade climática mundial, estocam carbono, contribuem para que as chuvas infiltrem no solo, evitando enchentes catastróficas, recarregam o lençol freático, reciclam eficientemente a umidade do ar com a evapotranspiração e produzem O2. Atualmente, elas cobrem apenas 31% do solo do planeta e cerca de 7 milhões de hectares quase totalmente de florestas tropicais são desmatados anualmente.

No Brasil, essa agressão é ampliada pela criação extensiva de gado. O desmatamento, a degradação florestal e a agropecuária geram a maior parte da emissão dos gases de efeito estufa (GEE). E o aumento das temperaturas globais torna as florestas mais propensas às secas, ondas de calor, incêndios florestais e pragas. Isso cria um ciclo vicioso que realimenta o aquecimento global.

Nos últimos 800 mil anos, a concentração de CO2 na atmosfera oscilou entre os limites 180 ppm (partes por milhão) e 280 ppm. A concentração de CO2 cresceu mais de 50% em relação ao nível pré-industrial (de 278 ppm para 426 ppm em 2024). Dados da NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos) mostram que, em julho de 2024, a concentração atingiu 425,55 ppm.

Para reduzir a geração dos GEE no nosso país é necessário se trabalhar em pelo menos 2 frentes:

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Reduzir o consumo de carne bovina, que, do ponto de vista nutricional, é um item dispensável nas dietas e pode provocar câncer quando consumida mais de 3 vezes por semana. E, por conta do arroto dos bovinos, que produz metano (GEE de ação mais intensa que o CO2), o aquecimento global é intensificado. A pegada ecológica do consumo das carnes brancas (aves e peixes) e de porco é bem inferior à da carne bovina. No Brasil atualmente há mais bovinos que humanos e uma significativa parcela das plantações é empregada para alimentar gado.

Substituir pastos e monoculturas degradadas por Sistemas Agroflorestais (SAFs), que geram mais renda e absorvem CO2 à medida que vão se desenvolvendo por sucessão ecológica, bem como substituir as monoculturas por plantios agroecológicos. Nas regiões do Brasil que possuem solo tropical, pastos são berçários de savanas e desertos, pois são criados onde antes havia matas nativas (geralmente removidas através de queimadas), em cujo solo grumoso as chuvas infiltravam e abasteciam as nascentes. Nos pastos pisoteados pelo gado e nas extensas monoculturas, as águas das chuvas escorrem mais em vez de infiltrarem no solo. E, como não possuem barreiras de vento, a reduzida parcela de umidade que permanece no solo evapora-se facilmente nos períodos secos.

Medidas preventivas voltadas para a descarbonização e a conservação das vegetações nativas são bem menos custosas do que as despesas causadas por catástrofes climáticas. Nas matas e biomas nativos, grande parte das chuvas infiltra no solo em vez de escorrer.

O Rio Grande do Sul, onde restam apenas 7% da área original da Mata Atlântica, foi o primeiro estado a cobrir quase todo o território com propriedades agrícolas de grandes extensões, monoculturas tradicionais (ou seja, sem manejo agroecológico) e pastos. O bioma Pampa é um dos mais ameaçados do país.

Em décadas anteriores à perda generalizada da vegetação nativa, uma característica dos pampas era ter chuvas bem distribuídas por todo o ano. Entretanto, segundo dados do MapBiomas, nas últimas 4 décadas, o Pampa foi o bioma que mais perdeu vegetação nativa.

As consequências das ações dos últimos 250 anos são visíveis e catastróficas: aquecimento global, extremos climáticos, ondas de calor, derretimento dos polos, elevação dos níveis dos oceanos, enchentes seguidas de estiagens mais longas, desestabilização dos ciclos hidrológicos, bem como tempestades, furacões e ciclones mais intensos.

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Cabe a nós mudar o futuro do planeta.

*Flaminio Levy Neto é engenheiro mecânico e mestre em engenharia pelo ITA. Ph.D. em Engenharia. Lecionou no ITA e na UnB e publicou três livros. Foi consultor ad hoc da CAPES e do CNPq. Atualmente atua como ad hoc na FACEPE.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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