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5 fatos que você deveria saber sobre a Independência, mas talvez não saiba

07/09/2022 04h00

São 200 anos que separam os dias de hoje com o 7 de setembro que marcou a Independência do Brasil em 1822. O UOL recebeu a historiadora Mary del Priore, que falou sobre o assunto e elencou cinco fatos importantes que todo brasileiro deveria saber sobre este período, mas que talvez não saiba.

Del Priore é ex-professora da USP (Universidade de São Paulo) e da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), tem mais de 50 livros publicados, foi vencedora do prêmio Jabuti e, desde março, ocupa uma cadeira na Academia Paulista de Letras. No encontro com o UOL, ela participou da última edição do Visão Plural, uma iniciativa do Comitê UOL Plural que recebe especialistas para debater diversos pontos de vista sobre assuntos do cotidiano no país.

Abaixo, os pontos elencados por ela e outras reflexões feitas durante o encontro:

1. Nada de 'grito do Ipiranga'; o processo foi longo e a treta, violenta

Segundo a historiadora, houve um longo processo até o famoso grito de dom Pedro 1º às margens do rio Ipiranga, em São Paulo. Começando com a Inconfidência Mineira, ocorreram diversas ações, mobilizações e lutas até aquele momento que entrou para a história. Isso faz os historiadores sinalizarem que o Brasil não teve uma independência, mas "independências".

"Não foi um berro dado à beira do riacho. Mas foi, sobretudo, uma guerra com muito sangue, com corpos na beira da praia"

A historiadora Mary Del Priore. - Marcelo Justo/Folhapress - Marcelo Justo/Folhapress
Mary Del Priore
Imagem: Marcelo Justo/Folhapress

2. Brasil era chamado de 'Brasils'

Com um território tão vasto e diverso, e em formação, o Brasil não era conhecido da forma como o encaramos hoje em dia, conta a historiadora.

"Quem passava pelo Brasil, considerava o Brasil com 's'. Era Brasils, como diriam os ingleses. Ou, como diria dom João 6º, 'os meus Brasis'".

3. Grupos pró-independência não pensavam em nação

"Nós vamos ver que o Brasil estava extremamente dividido em grupos de mando, em grupos de elite, elite econômica, sobretudo. E sem nenhum projeto político consensual. Não havia ideia do que fosse nação."

4. A liberdade que queriam era bem específica

No encontro com a redação do UOL, Priore também enfatizou as diferentes noções entre como encaramos os eventos atualmente e como as pessoas daquela época encaravam o que estava acontecendo. A distinção entre uma percepção e outra mostra como os valores mudaram com o passar do tempo, diz ela.

"Embora a gente fale muito em Independência, esta palavra pouco aparece. A independência na época estava associada a um conceito de liberdade. As pessoas queriam ficar livres de Portugal"

5. População negra participou ativamente do processo

Autora de livros como "À Procura Deles: Quem são os negros e mestiços que ultrapassaram a barreira do preconceito e marcaram a história do Brasil", Priore também falou sobre a presença da população negra no Brasil - ou Brasils — e sua participação nos processos de independência.

"A guerra de Salvador foi uma guerra terrível, com muitas mortes, uma participação bastante expressiva de homens afro mestiços, afrodescendentes e escravizados em batalhões diversos. Isso vai dar uma grande discussão porque muitos senhores de engenho vão ceder seus escravizados para lutar contra ou a favor do imperador prometendo liberdade a eles. E depois há uma série de processos na Justiça porque alguns senhores retiram esta promessa".
Mary Del Priore, historiadora

Priore lembrou ainda nomes pouco conhecidos ou negligenciados pela história. Pouca gente sabe, mas, por trás da saúde do imperador, houve um médico negro chamado João Fernandes Tavares, responsável por tratá-lo.

O papel da imprensa foi diferencial. Referência em estudos históricos sobre o Brasil, Mary Del Priore elencou movimentos de atuação da imprensa durante o período pré e pós-Independência.

"Em um primeiro momento, os jornais foram fundamentais para o debate [sobre] se o Brasil deveria ou não continuar submisso à coroa portuguesa. Em seguida, no momento do 'Dia do Fico' - que fez dom Pedro 1º decidir ficar no Brasil - a imprensa teve uma influência na decisão de dom Pedro 1º. Em um terceiro momento, os jornalistas tiveram influência para que a Constituinte fosse aberta e os deputados tivessem voz e, por fim, no declínio de dom Pedro 1º, os jornais foram de fundamental importância nas críticas a esse imperante"
Mary. Del Priore, historiadora

Não é a primeira vez que o país recebe partes de corpos da família real. Ao ser questionada sobre a chegada do coração de dom Pedro 1º ao Brasil, neste marco do bicentenário da Independência, Mary lembrou que não é a primeira vez que restos mortais de integrantes da antiga família real são trazidas ao Brasil.

Em 1922, partes dos corpos de dom Pedro 2º e da imperatriz Thereza Cristina também foram trazidas com honrarias durante o centenário. Uma multidão, diz ela, foi ao porto do Rio de Janeiro participar da cerimônia. "Tem relatos incríveis", conta.