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Cobertura sobre religiões precisa ir além das eleições, diz pesquisadora
Projeções indicam que os evangélicos serão o principal grupo religioso do Brasil em 2032 — em 2020, o grupo já representava 31% dos brasileiros. Hoje, já representam 27% do eleitorado, segundo o Datafolha. Não à toa, o segmento cada vez mais é protagonista de análises políticas durante o período eleitoral. Para a cientista política Carolina Evangelista, pesquisadora do Iser (Instituto de Estudos da Religião), porém, a cobertura sobre religião e política precisa ir além deste momento. "O foco apenas em ciclos eleitorais focaliza e enviesa demais o nosso olhar", diz.
Evangelista falou ao UOL durante o encontro Visão Plural, uma iniciativa do Comitê UOL Plural que recebe especialistas para debater diversos pontos de vista sobre assuntos do cotidiano no país. Ela deu dicas sobre como os jornalistas podem realizar uma boa cobertura sobre o assunto. Pontuou ainda a importância de não tratar as igrejas evangélicas como um grupo homogêneo, uma vez que cada uma delas tem formas específicas de se organizar.
"A maioria do segmento evangélico é feminino, negro, urbano e de baixa renda. Então, a fé tem alguns valores importantes que aparecem no universo de mulheres evangélicas, como a Justiça, esperança, foco, liberdade e cuidado", diz. "Saber como as pessoas que fazem parte professam essas fés, é importante para quando a gente vai reportar, analisar e contar histórias", complementa.
No cenário eleitoral, Evangelista explicou que em 2018, última eleição presidencial, "saltou aos olhos como candidaturas utilizavam o léxico religioso e o lema da crença com Deus" em suas campanhas. Ela lembrou do slogan "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", do presidente Jair Bolsonaro (PL). Mesmo assim, a cientista política aponta que, mesmo que não se possa fugir da intrínseca relação de religião e política, não se pode afirmar que a identidade religiosa define voto.
A gente não tem conseguido relacionar diretamente a orientação de voto do líder religioso com o voto efetivamente. A política está mais presente dentro dos templos evangélicos, a gente tem pesquisas desde os anos 90, mas é um espaço institucional e religioso que se organiza de forma muito mais autônoma e descentralizada"
Carolina Evangelista, pesquisadora do Iser (Instituto de Estudos da Religião)
Evangelista também apresentou ao UOL a plataforma Religião e Poder, que analisa dados e a atuação de agentes políticos com identidade religiosa nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Candidaturas com identidade religiosa totalizaram 10,71% do total dos candidatos nas eleições de 2020, e ocuparam, em média, 51,35% das cadeiras dos legislativos municipais.
Para a pesquisadora, que há no Congresso Nacional uma aliança entre parlamentares católicos e evangélicos. Essa união, explica, nasceu em 2010 em reação a avanços de políticas sobre direitos sexuais e reprodutivos, de minorias e da comunidade LGBTQIA+. Uma ação específica citada por Evangelista é o Plano Nacional de Direitos Humanos 3. "Não por acaso, o pastor Marco Feliciano se candidata à Presidência da Comissão de Direitos Humanos no Congresso Nacional", lembra.
A relação entre política e valores da fé evangélica também faz parte da nova série documental O evangélico no Brasil, de UOL TAB e MOV, a produtora de vídeos do UOL. O primeiro episódio, chamado "Ser evangélico no Brasil", aborda os motivos que levaram os entrevistados à conversão. Já o segundo, "A política sobe ao púlpito", mostra como política e religião se misturaram no País ao longo dos anos, transformando o eleitorado evangélico em um dos principais alvos das campanhas para as eleições de 2022.
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