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Janones x Sergio Camargo: racismo afeta até quem nega a existência dele
Nos bastidores do primeiro debate presidencial, o deputado federal André Janones (Avante-MG) chamou de "capitão do mato" o ex-presidente da Fundação Cultural Palmares Sérgio Camargo, que é negro. Prontamente, bolsonaristas apontaram o caráter racista da expressão, confirmado e explicado ao UOL pelo professor Adilson Moreira, doutor em direito antidiscriminatório pela Universidade de Harvard.
A situação mostrou que a cor ideológica não livra pessoas negras de serem alvo de discriminação. Criticado pela contestável e controversa passagem à frente da organização voltada a preservar as heranças culturais da população negra, Camargo concorreu sem sucesso a uma cadeira de deputado federal e é próximo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Janones desistiu da corrida presidencial para se reeleger para a Câmara dos Deputados e apoiar o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
Por que capitão do mato é racista? À época da escravatura, o capitão do mato era uma figura identificada como quem oprimia e exercia extrema violência contra outros negros. Devido a isso, a utilização do termo pode ser considerada racista.
O que Sergio Camargo já falou sobre o racismo? Exonerado da fundação, Camargo se define como "negro de direita, antivitimista, inimigo do politicamente correto, livre. Quando deixou a organização, escreveu no Twitter, "Chora, negrada vitimista", e já chamou movimentos negros de "conjunto de escravos ideológicos da esquerda".
Ele também nega a existência do racismo estrutural, mas, segundo o professor Adilson Moreira, é justamente isto que sujeita Camargo a ofensas como "capitão do mato".
Certas frases transcendem o contexto em que são utilizadas, como capitão do mato, negão, japa, etc. Todas elas, independentemente de como são empregadas, têm caráter ofensivo, racista, porque procura legitimar a opressão da pessoa negra"
Adilson Moreira, professor e doutor em direito antidiscriminatório pela Universidade de Harvard
Quais são os efeitos do racismo? Moreira é crítico da gestão de Camargo à frente da Fundação Palmares.
Ele pondera, porém, que ofensas raciais não cumprem o papel de propor discussões. São apenas uma maneira de desvalorizar algumas pessoas com base em sua cor ou raça.
A sociedade é permanentemente convencida de que negros não são agentes sociais capazes. Esse é o motivo pelo qual o racismo existe. É uma estratégia social utilizada com objetivo específico de sempre reproduzir a ideia de que pessoas negras não são atores sociais competentes"
Adilson Moreira
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