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UOL troca foto de ex-jogador imitando asiático; o que é racismo recreativo?
Tão importante quanto evitar comportamentos preconceituosos é reconhecer quando se replica alguma atitude que ofenda alguém por causa de seu gênero, raça, cor, origem social ou regional.
Foi isso que fez a redação de Esporte ao notar que um texto era ilustrado pela foto problemática de Perdigão, ex-volante do Internacional campeão da Libertadores e o Mundial de Clubes em 2006. A imagem mostrava o jogador puxando o canto dos olhos para imitar asiáticos. O problema é que gestos como esse são caracterizados por estudiosos como microagressões típicas do racismo recreativo. Por isso, a foto foi retirada e substituída por uma que mostrava o atleta durante uma partida.
Professor e doutor em direito pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Adilson Moreira explica que "microagressões são padrões de comportamento, produções culturais e mensagens não suficientemente graves para serem classificados como discriminação passível de gerar processo judicial, mas que expressam condescendência, desprezo e ódio por minorias raciais".
Finalista do Prêmio Jabuti, o mais tradicional do país, com o ensaio jurídico "Pensando como um negro", o professor exemplificou o que são microagressões durante entrevista a Ecoa em abril de 2021:
Um tipo de microagressão comum no Brasil é homens próximos a um descendente de asiático perguntarem se alguém topa 'comer um japinha' no jantar e todos caírem na gargalhada. As pessoas acham que estão sendo engraçadas, que não há racismo ali porque convivem com colegas de ascendência asiática. Mas, para a pessoa que ouve, é falta de respeito com sua identidade étnico-racial e sexual."
Adilson Moreira, jurista
Essas ofensas travestidas de piada atingem também outras minorias, como pessoas negras, da comunidade LGBTQIA+, mulheres e de outras regiões. Elas são a manifestação do chamado racismo recreativo.
Este conceito foi cunhado por Moreira no livro "Racismo Recreativo", de 2018 (coleção Feminismos Plurais, da Editora Jandaíra, ex-Pólen) e vem sendo usado para embasar outras pesquisas acadêmicas.
No livro, reeditado em 2019, Moreira analisa cerca de 150 sentenças do Judiciário brasileiro. Nelas, acusados e condenados de racismo argumentam que seus atos não poderiam ser vistos como crime, mas, sim, piadas, brincadeiras ou comentários que usavam de "humor".
"Racismo recreativo é uma política cultural que referenda por meio do humor a ideia de que negros [e outras populações] não são atores sociais competentes. Isso permite que pessoas brancas hostilizem minorias sociais sem perder uma imagem social positiva", explica Moreira.
Por muito tempo, o racismo foi pensado como um comportamento individual baseado na compreensão inadequada do outro: após uma experiência negativa com uma pessoa judia, negra e asiática, o indivíduo pressupõe que todas têm o mesmo defeito e generaliza para o grupo. Durante muito tempo, estudiosos pensavam que o racismo era um problema de natureza cognitiva. Mas isso tem mudado. Branco e negros têm posições distintas na estrutura de poder, e o racismo recreativo é uma estratégia para legitimar essas relações hierárquicas"
Adilson Moreira
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