Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Emicida é cura dos nossos tempos
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Esse texto não tem nenhuma pretensão de seguir a norma jornalística, que nos coloca na caixinha do distanciamento de determinado assunto, cheio de pompas, circunstâncias, cheios de ‘não me toque’. Ao contrário: esse encadeamento de palavras tentará expressar — justamente através delas — um momento bonito e significativo, ainda em estado de compreensão. É assim que a poesia nos deixa, todo revirado, sem saber o que fazer, sem saber como dar vazão aos pensamentos, tamanha a dimensão de catarse.
Poesia cantada, ritmada, gritada a plenos pulmões, fazendo corar, eu e todo mundo. Foi assim que me vi, no último final de semana, quando presente ao show de Leandro Roque de Oliveira, o Emicida, e sua banda, em mais uma sessão de retorno aos palcos. O lugar? O apoteótico espaço de resistência cultural e política, Circo Voador, sob as marquises dos Arcos da Lapa, Centro do Rio. Região onde pulsa a memória de histórias que já foram vividas e não deixam de acontecer, por exemplo, agora.
Ali, na efervescência eloquente da lona, o casamento perfeito do cantor e seu público, e no meio uma banda que dispensa apresentações. Era quase como realizar a Santíssima Trindade.
No santuário de Emicida, partilhadas estão as virtudes que nos lembram de onde viemos, a trajetória para onde vamos, e o como. No show ‘’AmarElo’’, uma ponta de ligação entre gerações e como nos portamos com nossos sentimentos, inúmeras vezes apagados por essa coisa difícil que é crescer. Não há censura sobre o sentir.
Ao despertar de canções que nos conectam com o que pode ser (e é) o melhor de nós, vamos curando, juntos, as feridas expostas de cada um. Estendendo a mão e o ombro pra quem tiver que colar, afinal de contas, ‘quem tem um amigo tem tudo’. Nesse que parece ser um clichê óbvio, a necessidade de repeti-lo em tempos tão sombrios e de solidão. E é na voz do próprio Emicida que mais uma certeza é esfregada na cara: ‘’tudo que nóis tem é nóis’’.
Não há como dissociar o trabalho do rapper e sua equipe como algo presente no núcleo familiar. Do seio do lar, muito dos aprendizados e trocas com sua matriarca Dona Jacira, parceira em ECOA; além do companheirismo e mola propulsora mobilizada por seu irmão, o também cantor Fióti; passando pelo modo de criação das filhas, o relacionamento com sua esposa, a leitura de amizade que estabelece entre os seus, o modo como enxerga o mundo partilhado na TV com Porchat, João Vicente e Francisco Bosco. A mesa é farta.
No país ainda castigado pela pandemia da covid-19, que ultrapassa 30 milhões de casos e mais de 660 mil mortes, além das outras tantas epidemias já presentes neste solo, como o racismo, a fome, o desrespeito à história (como o caso mais recente feito pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro à jornalista Miriam Leitão), a obra do rapper com mais de uma década na cena surge como algo primordial dos nossos dias. Não à toa, bradou recentemente Mano Brown: ‘’Emicida é o homem do nosso tempo".
Que bom participar, mesmo e contudo, desse mesmo período.
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