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Eduardo Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Na busca de ser ‘aliado’, o que fazer? Ouvir e acolher

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Imagem: iStock

22/06/2022 09h37

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Eu poderia abrir a torneira e soltar sobre um bocado de coisas que vi, durante a minha trajetória, em relação aos grupos LGBTQUIAP+. Dizer e refletir a partir de um lugar de hoje homem negro, cisgênero, constituído como profissional em comunicação, e muitas vezes cobrado a falar sobre coisas. E não sabendo ao certo se devo falar. E antes de tudo, por respeito.

Respeito, por exemplo, aos exemplos da comunidade que permearam minha vida. Seja na existência de Estrela, cabeleireira de ponta reconhecida na Rocinha, sinônimo da luta gay entre os becos e vielas não só da favela em questão, e também nos demais territórios, já que suas mãos tocaram cabelos de toda a ponta da região.

E da reunião de todo o time, com brilho e luta, em momentos que ampliaram o meu entendimento sobre o direito de amar quem se quer. E em festa. Foi na infância que vi brotar em minha frente à realização de paradas que reuniram em quantidades generosas pessoas de todos os gêneros, colorindo a vida para que juntas pudessem construir novas possibilidades. Justamente descendo o morro, passando na porta de igrejas, ouvindo retaliações, e retribuindo afeto.

Ou na dinâmica de quem, mais adulto, teve a oportunidade de trocar figurinhas com colegas de trabalho e amigos, indicando, cada um a seu modo, sua forma de ver e entender seu processo de reconhecimento. E com o discernimento de quem teve muita calmaria para ser força e coragem ao que a vida lhe pedia. Porque é uma questão sim, individual, mas também coletiva.

Mas nada, nada dessas experiências, equivale a fala de quem realmente sente na pele. Do lugar de homem cis e entendendo o peso na desconstrução do machismo - além de outros preconceitos - a missão de fazer valer essa meta. Não é utopia. E é captado isso que encerro aqui a dinâmica do que posso dizer hoje, convidando à reflexão e conhecimento.

O primeiro é a mais recente edição do jornal comunitário Maré de Notícias. Em uma atitude inovadora e revolucionária, o impresso que sai mensalmente para 16 favelas do conjunto da Maré, e vejam só, de maneira gratuita, se pôs a pautar a realidade de quem se reconhece no contexto LGBTQUIAP+, dando não voz, e sim potencializando. Coordenado por Jéssica Pires, Tamyres Matos e Matheus Affonso, o trabalho reúne textos que conjugam as vivências de gênero dentro do panorama favelado e periférico.

Trabalho digno de prêmio pela embocadura dada aos protagonistas de suas histórias, além do respeito que se foi organizada a publicação.

Na sequência de possíveis indicações que partam da voz ativa, adiciono ainda a edição especial do referencial caderno Globo sobre a temática. Em ''Corpo: Artigo Indefinido'', feminismo, equidade e desigualdade de gêneros, corpos, interseccionalidade, educação, mercado de trabalho, violência, direitos civis e linguagem, Numa cartela diversas de assunto, a missão de não fazer esgotar o debate. Porque pautar gêneros é fomentar é nos vermos como múltiplos dentro dessa esfera, porque ''diz respeito a homens, mulheres e à vasta gama de pessoas que existem no amplo espaço entre o masculino e o feminino'', como consta na publicação.

E não menos importante: as pessoas e vozes que estão presentes mais dentro e fora dessa esfera. Nossos parceiros, parceiras, amigos, colegas, gentes de partes que nem consigo descrever. Acolhendo e ouvindo, aprendendo e retendo todas as contribuições. Para ser um cidadão melhor, um profissional melhor, um parceiro e amigo.

Lendo os queridos Noah Scheffel e Mari Rodrigues em ECOA, ou quem mais possa aparecer. Porque conversando com uma das pessoas que mais amo na vida, é assim que vamos criar possibilidades. Porque pra sentir orgulho, antes de tudo, é preciso fazer que essas pessoas estejam vivas.

Estou aqui como aprendiz, atento e em alerta. Vamos juntos?