Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como racismo contra filhos de Gagliasso e Ewbank afeta a vida de todos nós
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A cabeça voou quando tentei ver, novamente, o vídeo viralizado em segundos na tarde do último sábado (30) nas redes sociais. Não, não era apenas a apresentadora e atriz Giovanna Ewbank, junto do também ator Bruno Gagliasso, o casal. Eram os pais, naquele momento, de três crianças, duas delas negras. Titi e Bless, alvo do mais sórdido nível escancarado do preconceito: a fala direcionada às crianças.
"O que dizer sobre um fato que diz tanto sobre duas pessoas em específico, mas que impacta a vida de milhares de nós?", pensei, colocando-me na roda da situação. E daí relembrar, inúmeras vezes, as vezes em que fui alvo ou soube do racismo à brasileira, esse que se dá na sutileza das frases, dos olhares, da presença nos lugares, mas que ficou ainda mais externalizado após a eleição de Jair Messias Bolsonaro à presidência da república.
O que era velado tornou-se verbo. Não são poucos os casos em que negros expõem na arena virtual os episódios de discriminação racial. O imaginário que se impõe é "comum", tamanha a quantidade de vezes em que relatos onde pessoas são chamadas de 'macacos'', ou que escutam frases como "volta pra senzala", "seu lugar não é aqui", virou cotidiano. Banalizou. #sqn
Tanto aqui no Brasil quanto em Portugal - local do episódio em debate - não faltam números que explicitem a dureza diária que é viver sob pena do preconceito. Nestas terras, só em 2021, o Ministério dos Direitos Humanos indicou 1.016 casos sendo tipificados como o de injúria contra pretos e pardos, em que figuram os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais como os primeiros do ranking.
Nas terras de lá, de acordo com o Relatório da Comissão Para Igualdade Contra a Discriminação Racial, órgão ligado ao governo, em 2020, das 655 denúncias recebidas, 120 foram registradas pela cor da pele e origem racial e étnica. Outras 129 ocorrências foram feitas a partir de discriminação da nacionalidade das vítimas.
Seja lá e cá, o que se vê parece ser a mesma dinâmica, ainda que haja posicionamento jurídico e legal para que os casos sejam tidos como crime de racismo, quando muitos deles são, totalmente, declarados como injúria. Na escolha errada da tipificação, o atenuante da pena, enfraquecendo o relato e experiência da vítima, que estará sempre marcada pela lembrança.
Como a que vive em mim sobre quando desconfiou de mim o dono de um mercado, perguntando se havia pago ou não um biscoito comprado, e horas após, disse o motivo da desconfiança: "É de cor, né?". Ou quando fui seguido por um segurança, ainda criança, rumo à uma livraria. A resposta da ação? "Estou seguindo ordens".
A luta contra o racismo deve unir a todos, traçada, sobretudo, em sermos antirracistas, pretos e brancos.
Em que pese a fase eleitoral, a ser visto como tema fundamental dos debates, com ou sem os candidatos. Afinal de contas, o próximo presidente encontrará um país, pós-realização de Censo, com números ainda maiores do que 56% da população. Como lidará com a questão?
É dever das três casas o comprometimento por uma ação mais dura sobre as penas, e as instituições devem estar atentas. Não haverá conversa sobre um país além de 2022 sem começar por meio desse tema. Com racismo, não há democracia.
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