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Eduardo Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Qatar 'imita' Rio de Janeiro e sobe muro para esconder os pobres na Copa

Integrante da segurança do Qatar nos arredores do estádio Al Bayt  - Simon Stacpoole/Offside/Offside via Getty Images
Integrante da segurança do Qatar nos arredores do estádio Al Bayt Imagem: Simon Stacpoole/Offside/Offside via Getty Images

Edu Carvalho

Colunista do UOL

24/11/2022 06h00

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Num vídeo que circula nas redes sociais, tapumes, que mais formam um "paredão", apagam as regiões mais pobres de Doha, no Qatar, justamente onde reside a mão de obra escrava que levantou o evento da Copa. Em grande parte, moradores que são migrantes de outros locais e que estão, por ora, nesta situação.

Mas não se assustem, pessoas: o mesmo aconteceu em nosso país tropical durante os maiores eventos: Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas do Rio (2016).

A iniciativa por aqui era não provocar medo. Se tratando do Rio de Janeiro, porta de entrada e cartão-postal do país, a chegada de muitos turistas se dá pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, que tem como vizinho o Conjunto de Favelas da Maré, que pulsa potência e criatividade.

Eliana Sousa, diretora da Redes da Maré, tempos atrás, foi cirúrgica ao explicar a ação que torna invisível o conglomerado de comunidades.

"A Maré é identificada pelo imaginário social como o território do medo, do perigo iminente e da miséria crescente. Quem passa pela Linha Vermelha, pode identificá-la no trajeto, como um corredor revestido de estruturas de acrílico, placas de aço e muros de concreto. Como se não bastasse torná-la invisível politicamente, agora a estratégia do Estado é isolá-la fisicamente do restante da cidade. (...) Segregar a comunidade com um muro de concreto é mais do que estratégico para torná-la invisível aos olhos dos visitantes internacionais".

Ao se ver o mesmo que acontece agora no Qatar, o efeito não é só de apagamento das vidas e periferias com o muro palpável nas ruas. Por lá, muros visíveis - só que invisíveis - reforçam a omissão sobre uma série de questões que permeiam o território.

Controversa, a primeira Copa do Mundo a ser realizada no Oriente Médio lida com desrespeito aos direitos humanos, más condições de vida, passando por mortes de mulheres e pessoas da comunidade LGBTQUIA+.

Tomando as devidas proporções, no entanto, não podemos esquecer também que nove brasileiros morreram construindo estádios para a Copa do Mundo de 2014. Segundo o Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho (AEAT), ao todo, 1.400 trabalhadores da construção civil foram vítimas de acidentes entre 2010 e 2014.

Mas, afinal, quem irá discutir sobre esses assuntos quando a questão é sobre quem levará a taça?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL