Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Qatar 'imita' Rio de Janeiro e sobe muro para esconder os pobres na Copa
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Num vídeo que circula nas redes sociais, tapumes, que mais formam um "paredão", apagam as regiões mais pobres de Doha, no Qatar, justamente onde reside a mão de obra escrava que levantou o evento da Copa. Em grande parte, moradores que são migrantes de outros locais e que estão, por ora, nesta situação.
Mas não se assustem, pessoas: o mesmo aconteceu em nosso país tropical durante os maiores eventos: Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas do Rio (2016).
A iniciativa por aqui era não provocar medo. Se tratando do Rio de Janeiro, porta de entrada e cartão-postal do país, a chegada de muitos turistas se dá pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, que tem como vizinho o Conjunto de Favelas da Maré, que pulsa potência e criatividade.
Eliana Sousa, diretora da Redes da Maré, tempos atrás, foi cirúrgica ao explicar a ação que torna invisível o conglomerado de comunidades.
"A Maré é identificada pelo imaginário social como o território do medo, do perigo iminente e da miséria crescente. Quem passa pela Linha Vermelha, pode identificá-la no trajeto, como um corredor revestido de estruturas de acrílico, placas de aço e muros de concreto. Como se não bastasse torná-la invisível politicamente, agora a estratégia do Estado é isolá-la fisicamente do restante da cidade. (...) Segregar a comunidade com um muro de concreto é mais do que estratégico para torná-la invisível aos olhos dos visitantes internacionais".
Ao se ver o mesmo que acontece agora no Qatar, o efeito não é só de apagamento das vidas e periferias com o muro palpável nas ruas. Por lá, muros visíveis - só que invisíveis - reforçam a omissão sobre uma série de questões que permeiam o território.
Controversa, a primeira Copa do Mundo a ser realizada no Oriente Médio lida com desrespeito aos direitos humanos, más condições de vida, passando por mortes de mulheres e pessoas da comunidade LGBTQUIA+.
Tomando as devidas proporções, no entanto, não podemos esquecer também que nove brasileiros morreram construindo estádios para a Copa do Mundo de 2014. Segundo o Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho (AEAT), ao todo, 1.400 trabalhadores da construção civil foram vítimas de acidentes entre 2010 e 2014.
Mas, afinal, quem irá discutir sobre esses assuntos quando a questão é sobre quem levará a taça?
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.