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Eduardo Carvalho

REPORTAGEM

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Prefeitura faz 'limpeza' e acaba com local para pessoas em situação de rua

Ação social do Prato Feito das Ruas - Arquivo Pessoal
Ação social do Prato Feito das Ruas Imagem: Arquivo Pessoal

Edu Carvalho

Colunista do UOL

27/01/2023 06h00Atualizada em 27/01/2023 11h03

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No último dia 11 de janeiro, a ação social "Prato Feito das Ruas" teve uma sensação diferente ao chegar no Viaduto Imperatriz Leopoldina, no Centro Histórico de Porto Alegre.

O local, que há seis anos e meio oferta café da manhã e uma média de 1.200 marmitas no almoço para 700 pessoas em situação de rua ou em vulnerabilidade social, deu lugar a uma instalação de food truck.

"A empreendedora disse a nossa coordenadora de que naquele contêiner seria instalado um serviço de alimentação, e que havia adotado toda a área do viaduto. E que a prefeitura já tinha negociado conosco a saída, mas sequer sabíamos o que estava ocorrendo", conta Karen Garcia, uma das mobilizadoras da iniciativa.

Segundo Karen, uma reunião com o secretário de desenvolvimento social foi marcada, onde foi dito que na visão da Prefeitura, "a ação era diferente", e que espera descentralizar os serviços de apoio a quem está em situação de vulnerabilidade. Ainda que se saiba que no Centro Histórico da capital é onde se encontra a maior parte da população de rua.

Localizado na Cidade Baixa, o viaduto serve como uma espécie de "pouso" entre o Parque da Redenção e a Orla do Guaíba, área de passagem e de fácil acesso dessas pessoas.

Para dar amparo a quem precisa, o grupo reúne mais de 300 voluntários, e dentro do escopo do voluntariado atua em diversos segmentos. Através das parcerias, o "PF das Ruas" mobiliza grupos como o Barbeiros na Rua (fazendo cortes de cabelo e barba, além de pés e mãos), Banho Solidário, Médicos do Mundo (Laboratório de Rua, Mentes de Rua, Enfermagem de Rua, Médicos Veterinários, Médicos do Mundo, Reabilitação de Rua), Igualdade RS e a própria Prefeitura de Porto Alegre, por meio da da Secretaria da Saúde.

"Eles vêm fazendo um trabalho de higienização social na região do Centro. Infelizmente é que nós reunimos pessoas pobres, em maioria pretas, e para essa gente, a gente enfeia o Centro".

Questionamentos foram feitos sobre a legislação, que por repasse de responsabilidade, chegou aos cuidados da Secretaria de Parcerias Estratégicas. Dois encontros foram marcados, mas até o momento nenhum deles aconteceu. Com o remanejamento das datas, uma nova reunião foi marcada para essa quinta-feira, 26, às 16h30.

Pela internet, a ação solidária criou uma petição de apoio ao trabalho e já conta com mais de 15 mil assinaturas.

"A gente cria vínculos com essas pessoas, distribui afeto. Vai além da alimentação. É a possibilidade de dignidade, das pessoas acessarem o Estado. Mas a Prefeitura não reconhece isso. Precisamos desse reconhecimento público".

A coluna enviou um e-mail pedindo esclarecimentos sobre o caso à Secretaria de Parcerias Estratégicas, além dos gabinetes do prefeito e o vice. Até o fechamento deste texto, não obtivemos respostas.

A coluna espera que a reunião marcada seja feita e que uma ação tão importante não seja desmobilizada pelo Estado.

Atualização:

Na tarde de ontem ( 26) coordenadores do projeto enfim se reuniram com representantes da prefeitura e com os novos adotantes do Viaduto Imperatriz Leopoldina.

Durante o encontro, teve continuidade o diálogo entre os empreendedores que irão adotar o espaço embaixo do viaduto e áreas verdes adjacentes, os idealizadores do projeto PF das Ruas e as secretarias do Desenvolvimento Social (SMDS) e de Parcerias (SMP).

A secretária Municipal de Parcerias, Ana Pellini, reafirmou que o Município nunca teve a intenção de retirar os voluntários da área, onde são fornecidos alimentos gratuitamente aos sábados para a população em situação de rua.

"A instalação de contêiner em um espaço do viaduto nunca colocou em risco o projeto PF das Ruas. É importante destacar que, há duas semanas, o empreendedor está se estabelecendo no local e, neste período, não houve descontinuidade da ação. Ocorreu apenas uma readequação para compatibilizar a obra com a atividade social. Vamos ocupar os espaços para revitalizar e conviver pacificamente", observa Pellini. O município irá estudar a viabilidade de instalar um banheiro público no local e pedir a limpeza do gradil, próximo à sede do movimento.

Antes da instalação do contêiner, a Secretaria de Serviços Urbanos (SmSurb) fez todos reparos, higienização e reforço na iluminação do local.

Ainda assim, mobilizadores do PF das Ruas aguardam um aceno mais forte para resolução da situação. "Continuamos mobilizados, mesmo que a avaliação seja de que a reunião tenha sido muito positiva. Mas, para finalmente conseguirmos dormir em paz e ficar com o coração quentinho, Precisamos ter a garantia do termo assinado".

A coluna espera. E os atendidos pela ação, também.