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Eduardo Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rita Lee travava 'luta contra nova escravidão' em defesa da causa animal

Cantora usava a voz para defender o meio ambiente - Reprodução/Instagram
Cantora usava a voz para defender o meio ambiente Imagem: Reprodução/Instagram

Edu Carvalho

Colunista do UOL

09/05/2023 12h28

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Os acordes da guitarra, os óculos vermelhos - mesma cor de seus cabelos (antes loiros, por um tempo cor de fogo e mais recentemente, branquinhos como a neve) - do azul dos olhos, o céu rock'n roll que ditou o que seria a partir dali, num antes e depois que poucos já viram passar. Era mais que um foguete, foi um cometa.

Para as mulheres, foi quem abriu caminhos. Sem ter culhão (e nem sabendo se era necessária a obrigação), colocou a sua para jogo.

Foi quem ditou os maiores sucessos da música antes pensada para que apenas os homens pudessem fazê-la. Foi lá, subiu no salto, no tênis, vestida de noiva, com terno, colorida e expressiva. Para a liberdade, a encarnação da própria.

Destituiu-se dos mitos, nos fazendo também desvencilhar dos nossos próprios. Se antes faltava a gente, agora não faltava mais. Sexo como tabu? Jamais. Com espuma, lançando perfume, numa sensação de relaxamento como se atingissem os Shangrilás.

Da vastidão de sua obra e versatilidade, também foi quem seria uma das primeiras vozes pelo meio ambiente e proteção dos animais. Nas letras, a citação sempre precisa pela valorização de nossos atributos naturais e a proteção dos mesmos. Descobrimos Atlântida numa viagem pilotada por ela, sobrevoando as melhores paisagens do Jardim de sua Babilônia.

Rita olhava para fora, estando dentro. Com o livro ''Dr. Alex'', escrito em duas sequências - uma delas, em especial, feita em cenário amazônico - fez um cientista virar um ratinho para entender e fazer mais pela natureza. No universo lúdico que só Rita poderia entrar, guiados por suas mãos, baixinhos e altinhos eram teleguiados pela abordagem gigante e generosa que Santa Rita tinha.

Em ''Dr. Alex e os Reis de Angra'', a história da princesa Angra, sequestrada pela malvadeza que quer pôr fim à natureza para a construção de usinas nucleares no reino. Na ciência de saber quem muda o futuro - as crianças - levou a palavra para quem muda o amanhã no agora.

Sem estar no parquinho, era mais direta. Enfática, mas terna. Agridoce. Numa entrevista recente, concedida por seu parceiro de jornada e vida, o músico Roberto de Carvalho, no Estadão, foi questionada:

''Por que uma grande parte da raça humana não consegue captar a divindade que existe nos animais?''. A resposta? ''Pela ignorância espiritual dos humanos em se considerarem arrogantemente como a única imagem e semelhança de um deus que eles mesmos inventaram, se achando superiores aos reinos mineral, vegetal e animal. A defesa da causa animal é a luta contra a nova escravidão''.

Precisamos escutar Rita. Que a Santa Rita de Sampa, mamãe da Natureza, das músicas, desbravadora e guardiã passe na frente.