Choramos com o término de Luísa Sonza, mas e a morte da menina Heloísa?
Que muitas coisas acontecem no Brasil ao mesmo tempo, aqui e agora, está posto. Não há como delimitar a gravidade dos assuntos que nos tomam de susto, impactando nossas vidas. É ciclone, fala de presidente na Assembleia da ONU, político cassado, joias, STF e mais uma penca de acontecimentos. Entre tantos fatos, existem aqueles que não podem passar em branco, tampouco nos faltar o choro, como a morte brutal da menina Heloísa dos Santos, de apenas três anos, depois de um agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) disparar contra um carro em que estava com sua família, no bairro de Seropédica, Rio de Janeiro.
A criança ficou internada por nove dias no Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, morrendo no último sábado, 16. Desde então, além de sua família e parentes, não houve comoção maior que posts espaçados nas redes sociais e notícias curtas nos jornais. Mas foram estes mesmos locais que explodiram e fizeram o mundo ''parar'' para lamentar o fim do namoro de Luísa Sonza e Chico Moedas, com direito a trilha e tudo.
Chorar pelo fim de um namoro é humano e mais que legítimo. É dor que, quando vivida, só é entendida por quem sente. Assim foi comigo - vejam só, há pouco tempo - com você e agora com Luísa. Mas maior do que isso é o fato de conseguirmos viver com a dor do corte abrupto de alguém que nem pôde desfrutar do primeiro e também dos segundos, terceiros, quartos, quintos amores, ter vida plena para ter saúde, acreditar no sentimento e apostar nos seus sonhos como Heloísa. Que agora passa a ser mais um símbolo, uma personagem e infelizmente, um dado, carimbando a violência que aniquila meninas e meninos, sob pretexto único: o da segurança.
A morte de Heloísa não é individual. Morrem com a menina que completaria quatro anos daqui a menos de um mês e meio sua família, parentes e também nós, o Brasil, esse país que naufraga sobre os mesmos corpos, os negros, desperdiçados ao léu como se fosse política pública instituída. Talvez por ser a que mais tenha dado certo até aqui, sob a égide do racismo que escancara nossas principais mazelas.
É sobre o enfrentamento de nossos problemas e o chamado à humanidade que falo hoje. Sobre a seletividade que divide lágrimas e apelos de dramas pessoais e coletivos. Sobre aquilo que deveria importar para que possamos seguir rumo ao projeto de país, possível, que tanto escrevo por aqui. Do contrário, nada é feito e enxugamos gelo.
Falta palavra quando o assunto é ligado a mortes como a de Heloísa, que não é a única e tampouco a última a ser assim. E do mesmo lado, há um dicionário de sentimentos sobre o desabono de uma relação ''fracassada'', traições e rompimentos de pactos, numa exposição servida a um lauto café da manhã ofertado por Ana Maria Braga.
Mesma sensação não foi vivida pelo gerente de farmácia Willian da Silva, pai da criança. Em entrevista ao repórter Geraldo Ribeiro, do Extra, ele disse que fará acompanhamento psicológico após o episódio. ''Está sendo muito doloroso. Mas vou buscar justiça por ela. Era uma criança sensacional que perdi por causa do despreparo de um policial rodoviário federal. Nada vai trazer minha filha de volta, mas o que eu puder fazer para que tenha justiça eu farei até o fim da minha vida''.
Já a mãe, Alana dos Santos Silva, fez dos stories a ponte para ser ouvida, ao compartilhar seus sentimentos por aqui. ''A vida aqui para você seria pequena, com sua alegria, danças cantos e tantas outras coisas que ama fazer. Chegar em casa e ver suas coisinhas me destrói. Procurar uma roupa sua que ainda não foi lavada para sentir seu cheiro é o que me acalma agora. Sua irmã sente tanto a sua falta, que ela grita pelo seu nome''.
Me uno à Luísa pelo término, mas a irmã de Helô merece muito mais nosso apoio e abraço.
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