Eduardo Carvalho

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Opinião

Eu vi a cara da morte e ela estava viva

O push do Google Fotos é quem me lembra. Na tela, uma foto da mesma data, mas há um ano. Era eu, um corredor, médicos, enfermeiros, seguranças e pela quarta vez, um encontro naquele hospital que atravessaria meu 2022, marcado pelo date contínuo com a maca e a sala de cirurgia. Um match nada perfeito.

Nessa Via-Crúcis pessoal, a sensação de drama coletivo, já que estavam em cisão meu rim e também o Brasil entre-eleições, naquilo que nos dividia num "dá ou desce" que só trazia dor. No meu caso, algo perto da dor de um parto. A minha finitude me parecia muito próxima, assim como também a sensação de não existir mais Brasil depois de outubro. E de tudo, tudo, tudo acabar. E cataploft, não ter pra onde sair.

Resistimos (pelo menos ali). Depois de sondas, ligamentos, e cateteres, eu estava pronto para respirar após noves meses. Já o Brasil? Bem…esse demorou mais alguns dias para ter sua situação, enfim, definida. E dessa maneira olhar para o futuro com menos angústia.

Um ano depois, o rio passou e cá estamos. Depois de sete meses distante do tratamento, voltei aos cuidados por mais uma intercorrência. Dois meses de tratamento intenso. Sessões com médicos, novas equipes, mas eu não estava só. Um sentimento de "agora eu já sei como funciona o jogo" pairava sobre minha cuca, um tanto quanto baqueada, mas não menos "feliz, alegre e forte, tenho amor e sorte, aonde quer que eu vá", como escrevem RacheLL Luz e Pretinho da Serrinha, na voz doce de Marisa Monte. E restaurando também cabeça e coração.

Dessa forma também está o Brasil, que passadas algumas agruras nestes últimos meses, segue tentando — num gerúndio infinito daquilo que não escapa à ação. Tentativa é erro, não é mesmo? E nesse emaranhado de chances, alguma vez tem que dar errado para saber onde melhorar e acertar, sabe companheiro Lula? Estamos ansiosos pelos pontos positivos.

É preciso ver a cara da morte e saber que ela está muito viva para tomar um banho de mudanças, reordenar a rota e seguir viagem. Foi comigo, com o Brasil e pode ser com você nesse exato minuto. Se não agora, em algum momento, eu te garanto. O problema é entender que o que importa só nos vale quando perdemos ou estamos na situação desfavorável.

Nesse meu novo ano que se inicia, de novo, te convido a "iluminar a vida, já que a morte cai do azul", diria meu ídolo Lulu. Na escolha do que é simples, bom, bonito e sincero. E do que realmente tem significado.

Já que podemos, que tal vivermos tudo que há pra viver?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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