Eduardo Carvalho

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Opinião

No Brasil de atrocidades, o beijo de Kelvin e Ramiro nos salva

Desta vez não foi "selinho". Logo após o "boa noite e até amanhã" mais conhecido do Brasil, dito por William Bonner e, na ocasião, por Ana Paula Araújo, eu, você, e todos nós nos unimos frente à tela da TV, no meio desse povo, para aguardar a cena que há meses movimenta a expectativa de quem assiste, diariamente, a novela ''Terra e Paixão''. E também daqueles que não assistem, já que o casal furou a bolha e é comentado de Norte a Sul do país.

Não havia coincidência melhor do que, logo após um programa que traz as notícias de nosso patropi e do mundo - algumas mais amargas do que outras -, vir o beijo que traria acalanto para quem ainda deposita um rés de fé na vida e doçura, embalados pela boiadeira Ana Castela e a dupla César Menotti e Fabiano. Afinal, juntos ou sozinhos, não dá para não querer cantar ''Eu Sem Você Não Dá'', colado em uma parceria que nos proteja dos perigos mais eminentes.

E dali pensar que o amor romântico (mesmo com todas as questões) pode, sim, ser a salvação para momentos não tão bons, conferindo força e sustentação para aguentar a barra ou ainda acreditar que a situação pode melhorar na vida individual e também na lida coletiva, como nos canta Martinho da Vila. Uma 'colada' que por vezes chegou a ser cogitada de não acontecer, assim como na novela 'Vai na Fé".

Na boca miúda ainda vê-se esperança. Seis em cada dez entrevistados (59%) acreditam que o Brasil vai melhorar em 2024, e o número de pessimistas, que já foi de 26%, agora gira em 17%. É o que aponta a pesquisa Radar Febraban, promovida pela Federação Brasileira de Bancos a partir de entrevistas com 2 mil pessoas nas cinco regiões do país, pelo Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas).

Da segurança pública, ainda nos cerca o receio do desamparo, fazendo com que a população, erroneamente, chame para si a responsabilidade de atuar com as próprias mãos na hora de fazer justiça. Nesta seara, é preciso pontuar que o Estado é falho; e as medidas adotadas pelo atual governo ainda não geraram satisfação para quem espera, como um bem inalienável, o direito de ir e vir sem seja espancado ao simplesmente caminhar pelo calçadão mais famoso do mundo, o da orla de Copacabana.

Eu sei, oscilo aqui entre ver a situação com o copo meio cheio e meio vazio. Há uma guerra global em curso; a COP não nos trouxe ações efetivas para assegurar um amanhã possível e mais sustentável; e, enquanto escrevo, milhares passam por insegurança alimentar, que nada mais é do que fome, a cada esquina. Tem vezes que é osso só de pensar.

Mas estamos a pouco mais de quinze dias para o final de 2023; a quase 10 do Natal, festa que pra mim ganhou outro significado faz anos. É que, numa situação de necessidade, atuei como um ''bom velhinho'' em uma festa de uma família bem abastada. O motivo? A enfermidade de minha mãe, que fez desse trabalho a única opção possível para ter ao menos o frango simples de padaria junto à farofa para a ceia.

Com a sensibilidade que a data do nascimento do menino Deus nos faz viver, quando multiplicam-se os votos de bonança e positividade, assistir o encontro de Kelvin e Ramiro foi quase um especial de Natal antecipado do Roberto Carlos, onde a chave-mestra da vida pode ser atuar pelo amor, com quem quer que seja. Além, é claro, de expandir o afeto para quem partilha, da vida, o melhor que ela nos pode trazer.

Para todos os momentos, o meu desejo, como bom velhinho que fui, é de 'beijões' como o de Kelvin e Ramiro. Eles salvam um bocado.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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