Por que o Programa Pé de Meia pode salvar estudantes e reduzir evasão
Foi na voz de Renata Vasconcellos no "JN", na noite da última segunda (16), que recebi a notícia que teria apaziguado uma geração, se tivesse sido implementada há mais tempo: um programa que servirá como uma 'bolsa' aos estudantes de baixa renda matriculados no ensino médio público do Brasil. Seu nome? Nada mais simbólico do que ''Pé de Meia''.
Os detalhes sobre o valor exato concedido a cada beneficiário ainda não foram divulgados. No entanto, já sabemos que eles terão de preencher alguns requisitos, como comprovar renda familiar per capita igual ou inferior a R$ 218; ter entre 19 e 24 anos ou estar matriculado no EJA (a modalidade Educação de Jovens e Adultos). Além disso, é necessário manter uma frequência de pelo menos 80% das horas letivas e realizar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) no último ano do curso.
Mas já é possível prever uma coisa: isso tende a combater a evasão escolar justamente nos últimos três anos mais difíceis de uma jornada desigual, exaustiva e, muitas vezes, extremamente solitária. Sim, não é fácil "só" estudar e ter de arcar com todos os custos desse desafio-desejo.
Ao escrever sobre esse momento, relembro minha trajetória de estudante. E mais: penso naqueles que ficaram para trás, não por vontade, mas por falta de oportunidades. Num contexto em que o tempo era dividido entre seis horas de sala de aula e outras oito ou até dez de responsabilidades domésticas e profissionais, como forma de auxiliar em casa, fica quase impossível conquistar uma nota mil na redação de primeira.
Dos que vi caminhar ao meu lado, poucos são os que conseguiram seguir em frente na vida acadêmica, enfrentando obstáculos no sistema público e, sobretudo, no privado. E tudo por falta de recursos financeiros. São esses colegas e também aqueles que precisaram frear seus estudos por questões financeiras que mentalizei quando levantei, há cerca de um ano, o canudo da minha graduação, enfim, finalizada. A conclusão poderia ter sido ainda mais gratificante se não tivéssemos deixado para trás tantos talentos ao longo do caminho.
Ao sancionar a lei, o presidente Lula, junto ao ministro Camilo Santana e os criadores do PL 54/2021, apresentado pela deputada Tabata Amaral (PSB-SP) e outros parlamentares, tenta reparar uma dívida com o passado, mirando o futuro. E acreditando que nele possa haver mudanças que ditarão os que virão, incluindo no balaio pilares que não podem passar despercebidos, como colaboração, atenção psicossocial e valorização profissional.
Em um país que se projeta e quer ser exemplo, nada melhor do que investir no capital ativo e humano que dá certo: o outro. Lamento que tenha demorado tanto, mas, como diz o ditado, ''antes tarde do que nunca''.
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