Negra, bissexual, pagodeira e crente: Ludmilla é o Brasil
No olimpo onde encontram-se as musas (meio contraditório o termo hoje em dia, não?), tem espaço para todas. Mas neste ano, a mim parece certo afirmar que, com destaque maior vem ela, que há uma década faz os corpos balançarem e remexerem num ritmo malicioso. E tá tudo tranquilo, mais que isso: tudo 'numanice'.
Ela soltou as batidas do funk, travestiu-se do que de melhor existia e poderia ser consumido na cena pop. Juntou tudo à sua forma. Foi Beyoncé, um alter-ego que antecipou o que aconteceria até tornar-se Ludmilla. E pronto: fez a favela chegar, mas não só isso.
Seu canto refinou, chegando para ainda mais pessoas ao longo do tempo. Com a cara e a coragem, abriu ao Brasil uma relação homoafetiva. Maldivas? Que nada! Seu lugar de fala é aqui, onde faz do país sua língua.
Empenha, com orgulho, características e definições que por anos violentam a maioria minorizada do país: é negra, é bissexual, é maconheira, é pagodeira e, pra quem diz que haveria de ter limites, ainda é crente.
Seu mais recente feito foi, em agradecimento às benesses da vida, comprar o templo da igreja que frequenta e dar de presente à congregação. Longe de querer ostentar, é apenas uma fiel que professa a fé e entende o valor daquilo que se dá, retribuindo no gesto. Não é lindo?
A grana e o sucesso não a mobilizam ou a fazem descer do salto. A para sempre menina e mulher gigante só cresce, não é mesmo dona Silvana? Hoje, se procurada nas paradas musicais das plataformas e de outros modais, daria para preencher 24 horas de um dia só com canções que, quando não suas, têm sua participação.
Em breve, estreia uma turnê para comemorar sua carreira meteórica, além de saudar o que vem pela frente. Sim, será mãe, em um processo também já dividido com quem a aplaude.
Lud é o Brasil bom e bonito. Ela sabe e faz dele a sua casa.
Deixe seu comentário