Eduardo Carvalho

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Opinião

Chico Buarque e o sonho do povo em chegar aos 80 anos

Com o aniversário do compositor e cantor Chico Buarque na quarta-feira (19), muito se festejou sobre seus 80 anos de vida; sendo Francisco o último nome masculino que faltava para entrar na casa dos "oitentões", onde há algum tempo já estão Roberto Carlos, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento, nossos orixás.

Os dois primeiros, apesar da diferença de dois anos entre si, bebem de um privilégio que aos brancos é visto como um luxo: até aqui, graças ao tempo e aos cuidados, não tiveram de parar sua jornada artística para cuidar da saúde. Aliás, não que se saiba, é bom frisar. Já Gil e Milton, em algum momento, precisaram da pausa para promover o autocuidado e preservar aquilo que de melhor podem oferecer ao público, sua permanência entre nós. Milton, inclusive, deixou os palcos há cerca de dois anos, mas ainda mantém sua produtividade em composições.

Historiador, político, artistas: quem é quem na família de Chico Buarque

Parece balela, mas é um fato que corpos negros sempre apresentem mais dificuldades para ter uma velhice plena e sem acometimento de qualquer que seja o problema de saúde (isso quando você consegue ter a sorte de permanecer vivo sendo preto). Somos, em maioria, grande parte da força motriz do país, carregamos o desejo e instinto de produtividade, sem que se pese o fator idade. "Ué, mas nem parece que estão tão velhos". E ainda colocam a "culpa" na melanina.

Chegar às faixas mais próximas de um centenário deveria ser um bem de acesso a todos, não exceção. O que vemos no panteão das estrelas de nossa música é a realidade sentida pelo público, que ao mesmo tempo que os aplaude, vê o tempo passar como o findar dos shows, sem direito a um "bis".

Envelhecer envolve qualidade de vida, bem-estar social que atravesse um país através da efetividade de direitos que possibilitem, mesmo sem ação, uma rotina mais leve depois de anos dedicados ao trabalho. Sensações que Buarque vive, como sabido em notícias publicadas na efeméride. As apresentações diminuíram, o cantor mora em um dos bairros mais caros e confortáveis do Brasil, sua vida está ligada ao aproveitamento familiar e encontro com amigos. Quem não há de sonhar com tal benefício?

O problema desse "sonho" é a realidade, que não é a mesma "Paratodos", mas se a gente quiser, pode ser.

"Imagina"?!

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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