De Daiane a Rebeca: viva as mulheres pretas do Brasil!
Já troquei aqui mesmo em Ecoa que um país se faz de exemplos. Bons exemplos. E não há momento melhor ou maior, com tamanha relevância, que as Olímpiadas.
Em 2004, nos Jogos Olímpicos de Atenas, foi a primeira vez que a seleção brasileira participou, de forma completa, defendendo a nossa ginástica. Sabe quem estava lá? Daiane dos Santos. Foi justamente naquele ano que Daiane fez a apresentação inesquecível e histórica com 'Brasileirinho', uma espécie de antes e depois, um corte abrupto para o que viria a partir dali. Uma certeza de que aquele momento não era qualquer um, e sim, um acontecimento.
Lá em 2004, Rebeca Andrade tinha cinco anos, mesma idade em que começou na ginástica. E sabe qual era o apelido dela? "Daianinha".
No passar dos anos, a passagem de bastão, mesmo que as duas nem tenham se cruzado dentro dos ginásios. E, talvez, nem precisassem, afinal, importância, relevância e representatividade não necessitam, exatamente, serem contemporâneas.
É possível pensar que, sem uma, não existiria a outra. Que a força de uma referência nos dá a capacidade de sair de caixinhas impostas por qualquer situação. É sobre poder sonhar, um assunto que já se tornou batido aqui nos textos, mas que precisam de reafirmação para um país em que pessoas como Daiane e Rebeca têm quatro vezes mais chances de serem mortas pela polícia do que brancos, segundo o mais recente Anuário de Segurança Pública.
Hoje, a medalha de prata Rebeca, a menina de Guarulhos a partir de seu desempenho no salto individual, não é só dela. É também de Daiane, de Júlia, Lorrane, Flávia, Jade e de tantas outras meninas espalhadas pelo Brasil.
Conceição Evaristo, nossa griô e escritora, ensina: mais importante que ser a primeira, é não ser a única.
Viva a elas. Viva as mulheres pretas do Brasil!
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