Eduardo Carvalho

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Opinião

Copo reutilizável e Favela 3D: conheça as novidades do Rock in Rio

Entre uma agenda e outra, na correria das duas semanas anteriores à edição que comemora os 40 anos do Rock In Rio, surge do outro lado da tela Roberta Medina, executiva do festival e vice-presidente da Rock World.

De bate-pronto, é impossível negar que em suas veias não corra a paixão pelo Rio, mas, pelo país. E mais: pelos elementos que mobilizam e engajam mais de 28 mil pessoas que trabalham para colocar um dos festivais mais conhecidos do mundo de pé, com público diário durante os sete dias de aproximadamente 100 mil pessoas na "cidade do respeito, da tolerância", como ela caracteriza o espaço onde a festa acontece.

Pouco mais de 20 anos depois da criação do lema "Por Um Mundo Melhor" - que coincide com os princípios de Ecoa - Roberta faz uma análise sobre as principais mudanças das últimas duas décadas. E traz novidades no eixo de sustentabilidade, como o uso de copos reutilizáveis, o protagonismo da água durante o evento e apoios ao projeto Favela 3D, que chega no Rio com uma iniciativa no Morro da Providência, além do Ação da Cidadania, a partir da doações do Dia Brasil.

Edu Carvalho: Em sua 10ª edição brasileira, 40 anos depois da primeira, é possível dizer que o Rock In Rio fez do Rio e do Brasil um lugar melhor?

Roberta Medina: Quero acreditar que a cada edição deixamos uma sementinha. A gente vê isso muito nas pessoas, e a missão principal da música, do entretenimento, é mostrar a potência do ser humano, de que somos melhores, que "funciona". Uma sociedade melhor é possível. Não quer dizer que quem faz o evento seja sempre bom, que o mundo esteja sempre bonito. Continuamos atrás de uma partilha de olhar que saia de um lugar onde o coletivo seja a partida. Temos conseguido fazer o Rio ficar melhor e o Brasil ficar melhor, cada vez mais. Um Brasil que dá certo, potente.

Edu Carvalho: Quando você olha pra trás, o que mudou de 2001, quando o lema foi instituído, pra cá?

A proposta nasce pra colocar luz em temas interessantes, que não necessariamente têm tanta atenção, colocando luz nas soluções. A partir de 2006, a gente entende o impacto ambiental. Evoluímos primeiro no impacto ambiental e isso é uma constante, e depois fizemos a virada humana. "Ok, não adianta ser neutro em carbono se as pessoas não estão bem". Quero acreditar que, em 2001, a gente conseguiu impulsionar o mercado para um olhar diferente, onde falar e apoiar causas sociais é algo bom. Tiramos isso do tabu. Nota-se uma virada em prol dos negócios, mas faz pelo todo.

No livro que elenca os resultados, planos e metas, você diz: ''Pessoas bem cuidadas, saudáveis e com recargas constantes de alegria e esperança fazem do mundo um lugar melhor porque refletem nele aquilo que são''. Além dos números, qual é o legado não palpável mais evidente do RiR?

De bem cuidar. E pessoas bem cuidadas se comportam melhor. Não é possível porque somos 'incríveis'. É possível porque as pessoas são incríveis. Mas qual é o nosso papel, qual a linguagem do convite, o cuidado do detalhe? Fazer a nossa parte. Nós não gerimos 100 mil pessoas, isso é pura ilusão. Tem 28 mil pessoas trabalhando. A gente faz um convite, colocamos uma proposta, e depois conectamos todos. Mas cada um faz a sua parte. Alimentamos a esperança e a confiança do coletivo. Nós somos um evento de multidão. Essa é a nossa parte macro, de mostrar que o coletivo funciona, que não precisa ter medo.

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A Cidade do Rock seria então a "cidade sem medo"?

Não ousaria dizer que é uma cidade sem medo, mas acho que é uma cidade de respeito, de tolerância, e isso minimiza o estado de defesa, traz um espaço de liberdade. Isso reduz a necessidade do medo.

Em 2022, vocês fizeram a reciclagem, o leilão de guitarras, teve mais recursos de acessibilidade e de compensação na emissão de carbono. De qual desses feitos vocês mais se orgulham? Teve algum que não foi totalmente positivo?

A gestão de resíduos é um tema nosso há muito tempo, porque tudo que está na nossa área de produção conseguimos controlar e direcionar diretamente. Quando vai pro público, tem contaminação e fica mais difícil. Outra jornada é a acessibilidade, que hoje traz novos desafios. No The Town, tivemos 2.000 pessoas com deficiência cadastrada. Elas se sentem bem-vindas, mas como é que continua fazendo? A primeira família que entrou no RiR Lisboa desse ano estava com um filho autista. E a fala dela foi "que bom que existe um lugar que eu possa trazer ele". Não levei dois minutos de evento pra ter uma resposta positiva sobre o que estamos fazendo.

Dentro da pauta ESG, como mobilizar e engajar as empresas ligadas ao festival, como garantir que eles cumpram com os objetivos e garantam que nenhum trabalhador seja explorado?

O que a gente faz são as exigências, além de fazer muita formação. Todo pilar, treinamos. Exemplo: seguranças para lidar com pessoas de raça, gênero e credos diferentes, mas há coisas estruturais. Se perguntar se o festival sozinho faz a diferença? Não faz. Somos um ponto dentro de um contexto social grande. O que começamos a fazer agora é provocar as conversas, de que precisa ser um compromisso de mercado, de indústria.

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Sobre trabalho análogo à escravidão: o cara não quer ir pra casa, porque não tem sistema de transporte pra ele voltar. Então ele se enfia embaixo do palco pra poder trabalhar amanhã. Surge um "Opa, peraí". Hoje já temos três núcleos grandes de dormitórios. Começou com segurança, temos limpeza e dos ambulantes. Temos dormitórios para que eles possam fazer o trabalho, descansar e voltar no dia seguinte. Mas se a empresa não tiver pagando mais, não acontece. Você investe mais pra que a cadeia possa fazer.

Temos uma força diferente a partir do momento que existe RiR, The Town e Lollapalooza. Antes tínhamos uma solução que era implementada de dois em dois anos. Agora se temos um evento a cada seis meses, passa a ser interessante. Mas também não fecha a conta.
O que estamos fazendo é uma cartilha progressiva: "a partir do ano X, não pode tal coisa". Vamos começar a colocar lá na frente pra que se organizem. Mas se não houver demanda do mercado, não é só o RiR.

Seu pai diz numa das partes do documentário: ''A cada evento a gente vai fazer mais''. O que estão preparando para essa edição?

Ampliamos a acessibilidade, a pluralidade, e no campo de sustentabilidade, o copo reutilizável e a gestão de resíduos. Um dos grandes focos esse ano é sobre o tema água. A legislação já existia, e agora pode entrar com garrafinha até 500 ml, então você não precisa comprar mais o copinho de água. E depois do copo reutilizável, é o que sobra.

Talvez uma das grandes revoluções esteja no pilar cultural, com o dia Brasil. Tem uma representatividade, não toda, mas muito potente. Representatividade de estilos e ritmos que materializam a grandiosidade do Brasil, que não é só o sudeste. Não faz o menor sentido não ampliar as fronteiras. A gente só vai entender depois de quando ele acontecer. Temos ainda o projeto Favela 3D, com o Gerando Falcões, no Morro da Providência. A gente já viu que muda, que avança rápido. Como essas famílias impactadas ficam fortes, o que acontece? Assistencialismo é necessário pra determinadas fases, mas o empoderamento é a solução. E acho que esse projeto olha pra esse lugar. Eles são catalisadores de potência social, operando com qualidade e força.

Se fosse para o RiR apadrinhar um dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), qual seria?!

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Um só não, quantos mais melhor! O engraçado é que trabalhamos com eles e atuamos em vários, o que não é difícil. Estamos fazendo música, mas porque não podemos fazer algo a mais? Essa é nossa cultura interna. O RIR foi criado pra prestar serviço à sociedade. A gente trabalha olhando pra fora.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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