Apagar queimadas ou acabar com a fome? Eis a questão
Não é preciso chegar em 31 de dezembro para dizermos que estamos exaustos, já que, para onde se olha, há cansaço. Confesso que não sei se é o calor extremo que tem me deixado assim ou o pânico das queimadas, essas que têm feito o céu dos "brasis" cinza, sendo impossível ver o azul.
Foi aqui mesmo, em Ecoa, que nosso colunista e meu parceiro de firma Carlos Nobre disse em sua mais recente coluna: são enormes os prejuízos desse cenário, acarretando problemas de saúde como doenças respiratórias, degradação da qualidade do ar, além dos milhares de hectares devastados pelo fogo que destrói as nossas florestas. Mas creio que falte ao diagnóstico o fator saúde mental.
É fato: com tanta coisa acontecendo, como prender atenção sem deixar de lado aquilo que deveria importar e nos mobilizar? Como atribuir o valor e partir para atuação, sem que nada fique desguarnecido? E mais: como nos manter cuidados da cabecinha, num pacto individual e também coletivo? Não tem me parecido uma tarefa fácil desviar de cadeiradas ou socos e pontapés gratuitos capturados pelas câmeras. Não meus amigos, não são cenas do Brasil Urgente, e sim registro dos debates que deveriam tratar de propostas sobre como melhorar a vida brasileira.
Enquanto eles brigam, há dois milhões de cidadãos brasileiros residentes de São Paulo sem ter o que comer. É gente que tem sentido a barriga vazia, sendo mais da metade acometida pela insegurança alimentar. Nesse prato, só cabe o arroz e o feijão, segundo aponta o Inquérito sobre a Situação Alimentar no Município de São Paulo, lançado na última sexta-feira (20). Carne? Verduras? Frutas? Esquece. O dinheiro que serviria para isso foi o que pagou os boletos e a passagem pro trampo, como esmiúça numa reportagem a repórter Agnes Sofia Guimarães, do portal O Joio e o Trigo.
A cabeça gira. Correr para apagar os incêndios ou colocar comida na mesa de quem não tem? O que deve ser prioritário? A quase uma semana da eleição que define, em primeiro turno, o rumo das metrópoles espalhadas por nosso patropi, o que sabemos apenas é que estes dois desafios passam longe dos projetos de futuro que imaginam para todos. Não há mesmo um plano, e tudo que venha a ser feito se dá no escopo de 'projetos', que, antes de começar, já indicam uma data de início e uma de fim. É o modo #seviration ligado à enésima potência.
Reflito, sem ter as respostas certas de pra onde estamos caminhando rumo ao projeto de 'mundo melhor' que tanto esperançamos por aqui. Pinta um quê de tristeza, num mix de desalento e inércia.
Tá cada vez mais hard ser brasileiro, vocês não acham?
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