Eduardo Carvalho

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Opinião

Bets escancaram problema da desigualdade social no Brasil

Nas últimas semanas, o Brasil se viu preso a um jogo injusto contra um 'novo' inimigo: as bets, um sistema online de apostas que tem crescido exponencialmente não só pela aderência, mas também pela onipresença. O fato de pessoas apostarem suas fichas e vidas nesse vício encontrado ao rolar a tela descortina a enorme desigualdade social que habita em nós.

No meio deste cenário, ampliou-se o uso do cartão do Bolsa Família para as apostas eletrônicas. Como resposta, o governo criou um grupo de trabalho para discutir formas para evitar que o benefício seja usado para esse fim. Mas?alguém se perguntou qual o motivo para um beneficiário do programa social fazer os jogos? A pergunta é uma, e a resposta já está dada: renda extra.

Num país em que 60% dos cidadãos vivem com menos de R$ 1.500 por mês, sub-precarizados - mesmo com elevação das taxas de emprego e renda - o dinheiro mais fácil e esperançado é aquele que não contamos, depositado na sorte. Talvez seja esse um dos motivos que explicam a subida do setor de apostas, afinal de contas, todo mundo quer ser milionário. Entre junho de 2023 e junho de 2024, os brasileiros gastaram R$ 68 bilhões em apostas nas bets. O montante representa 0,62% do PIB (Produto Interno Bruto) do país e 0,95% do consumo total no período.

É um fato: as apostas existem desde quando o mundo é mundo. Tratada como fezinha, a gente viu uma dinâmica de interpretação e transformação mudar ao passo dos avanços, do jogo do bicho às tele senas, passando pela Mega-Sena e cartolas da vida. Só que os outros sistemas ficaram velhos no formato de como captar quem aposta, além de figurarem para outros caminhos que não só o do giro de dinheiro.

Nas bets, a concentração de confiabilidade de quem tem credibilidade, afinal de contas, são garotos-propagandas de Galvão Bueno a camisas de 15 dos 20 times que reinam pelo Campeonato Brasileiro, passando por influenciadores que, pelo caráter de acompanhamento diário, passam a ser os melhores amigos virtuais desde criancinhas, como a advogada Deolane Bezerra, um dos alvos da Operação Integration, que também indiciou o cantor sertanejo Gusttavo Lima.

Assim, há um enredo pronto que tem feito pessoas das mais variadas profissões e nichos serem cooptadas pelos "tigrinhos" e "aviõezinhos" que estão por todos os lados e somam mais de 2.000 slots no Brasil. Um povo que tem tirado a própria vida por conta do endividamento em bets, enquanto os donos? lucram.

Apesar de as apostas estarem na nossa cultura há um bom tempo, é inegável que os aplicativos têm popularizado um comportamento extremamente perigoso quando se trata de uma população que, majoritariamente, recebe um salário mínimo e nunca teve acesso à educação financeira.

Para vencer o desafio, é preciso reorientar a rota dos fatos, trazendo uma nova perspectiva de vida a quem pouco tem, para o que tem, que já não sobra ou basta. Volto casas atrás: mais do que um viés de saúde pública, sob a leitura de que o momento é de uma epidemia, é preciso o amparo sócio-econômico. Mais direto: é preciso colocar dinheiro na mão do povo.

Será que o país está preparado para essa ousadia?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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