Bets escancaram problema da desigualdade social no Brasil
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Nas últimas semanas, o Brasil se viu preso a um jogo injusto contra um 'novo' inimigo: as bets, um sistema online de apostas que tem crescido exponencialmente não só pela aderência, mas também pela onipresença. O fato de pessoas apostarem suas fichas e vidas nesse vício encontrado ao rolar a tela descortina a enorme desigualdade social que habita em nós.
No meio deste cenário, ampliou-se o uso do cartão do Bolsa Família para as apostas eletrônicas. Como resposta, o governo criou um grupo de trabalho para discutir formas para evitar que o benefício seja usado para esse fim. Mas?alguém se perguntou qual o motivo para um beneficiário do programa social fazer os jogos? A pergunta é uma, e a resposta já está dada: renda extra.
Num país em que 60% dos cidadãos vivem com menos de R$ 1.500 por mês, sub-precarizados - mesmo com elevação das taxas de emprego e renda - o dinheiro mais fácil e esperançado é aquele que não contamos, depositado na sorte. Talvez seja esse um dos motivos que explicam a subida do setor de apostas, afinal de contas, todo mundo quer ser milionário. Entre junho de 2023 e junho de 2024, os brasileiros gastaram R$ 68 bilhões em apostas nas bets. O montante representa 0,62% do PIB (Produto Interno Bruto) do país e 0,95% do consumo total no período.
É um fato: as apostas existem desde quando o mundo é mundo. Tratada como fezinha, a gente viu uma dinâmica de interpretação e transformação mudar ao passo dos avanços, do jogo do bicho às tele senas, passando pela Mega-Sena e cartolas da vida. Só que os outros sistemas ficaram velhos no formato de como captar quem aposta, além de figurarem para outros caminhos que não só o do giro de dinheiro.
Nas bets, a concentração de confiabilidade de quem tem credibilidade, afinal de contas, são garotos-propagandas de Galvão Bueno a camisas de 15 dos 20 times que reinam pelo Campeonato Brasileiro, passando por influenciadores que, pelo caráter de acompanhamento diário, passam a ser os melhores amigos virtuais desde criancinhas, como a advogada Deolane Bezerra, um dos alvos da Operação Integration, que também indiciou o cantor sertanejo Gusttavo Lima.
Assim, há um enredo pronto que tem feito pessoas das mais variadas profissões e nichos serem cooptadas pelos "tigrinhos" e "aviõezinhos" que estão por todos os lados e somam mais de 2.000 slots no Brasil. Um povo que tem tirado a própria vida por conta do endividamento em bets, enquanto os donos? lucram.
Apesar de as apostas estarem na nossa cultura há um bom tempo, é inegável que os aplicativos têm popularizado um comportamento extremamente perigoso quando se trata de uma população que, majoritariamente, recebe um salário mínimo e nunca teve acesso à educação financeira.
Para vencer o desafio, é preciso reorientar a rota dos fatos, trazendo uma nova perspectiva de vida a quem pouco tem, para o que tem, que já não sobra ou basta. Volto casas atrás: mais do que um viés de saúde pública, sob a leitura de que o momento é de uma epidemia, é preciso o amparo sócio-econômico. Mais direto: é preciso colocar dinheiro na mão do povo.
Será que o país está preparado para essa ousadia?
6 comentários
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Abel Mattos Cabral Neto
Eduardo Barros, vá ser burro na Conchinchina. Nada de desigualdade social. Jogar sem condição nada tem a ver com social, educação causa essa distorção, nada a ver com social, n verdade falta de educação. Assim como te falta educação ao não saber focar o real problema. Pois eh, mas sendo colaborador de UOL você tem que distorcer as coisas para levar ao que eh sua exclusiva opinião.
Carlos Enescu
Renda extra em jogos de azar é busca por dinheiro fácil ou vício. Renda extra é hora extra no trabalho.
Sandro Barreto Batista
Será! Acredito em tentar ganhar dinheiro com o mínimo esforço! Da mesma forma que em que se apela á fé religiosa para ganhar algo apela-se a fézinha para ganhar um montante financeiro sem qualquer pingo do suor na testa.