Duda Santos, Jéssica Ellen e Gabz: representatividade na tela importa
Talvez por conta da cobertura eleitoral americana, você pode não ter se dado conta de que, neste momento, a maior emissora do país, que também é um dos maiores conglomerados de comunicação mundial, tem em sua grade três produções protagonizadas por mulheres negras. Não é que as mocinhas loiras e de olhos azuis tenham deixado os produtos audiovisuais, mas é que agora há um 'pretagonismo' em evidência.
Se isso poderia ser esperado algum dia? Jamais. Uma década atrás, o 'horário nobre' tinha nome e sobrenome, ou melhor, só nome: Helena. A vida? Ambientada no Leblon, algo que hoje, se colocado em prática, pode parecer até mesmo datado. E os números não mentem, viu? Segundo a Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), apenas 10% dos personagens centrais eram negros nas novelas da Globo entre 1994 e 2014. E ali, sempre e já, a população era formada por pessoas não brancas.
Dando vida às personagens do agora, jovens mulheres negras fruto de uma geração que batalhou muito pra fazer a tela escurecer - e aqui, sempre, no bom e melhor sentido. Duda Santos, Jéssica Ellen e Gabz, cada uma à sua história, carregam em suas peles trajetórias que ajudam a exemplificar a vida de mulheres do dia a dia, múltiplas e presentes em seus tempos, sem esquecer jamais daquilo que as conecta com a ancestralidade.
''Um dos sonhos das nossas ancestrais se realiza hoje'', escreveu Taís Araújo, que, para uma época inteira, foi símbolo solitário na tela da TV, no meio desse povo. E talvez ela seja a única hoje viva que possa ficar enobrecida pela história que ajudou a construir e pela qual também foi influenciada. É inegável dizer que não haveria Taís se não houvesse antes Ruth de Souza, Léa Garcia e Chica Xavier.
Taís foi protagonista entrando para o time de estrelas de dramas escritos por Manoel Carlos num momento em que preto, quando não era motorista, era a babá, a cozinheira ou chamado pra fazer novela de época como escravizado.
''Foi junto de você que o nosso cabelo crespo, que nunca ganhava espaço na televisão, virou moda (...) Eu acho que o Brasil de 15 anos atrás não estava pronto pra uma mulher como você. Uma mulher independente, livre, forte, rica e negra. Era demais pra um país que anos depois se revelou sem pudor nenhum, misógino, racista, machista, classista, homofóbico, transfóbico", refletiu Taís numa publicação comemorando 10 anos de sua Helena.
Penso na quantidade de meninas que, inspiradas pelas três que agora despontam na televisão, seja em qual horário for, não se sintam representadas. Penso naquilo que elas podem querer ser, mesmo que não sejam atrizes ou trabalhem no ramo artístico. Porque representatividade só faz sentido quando consegue influenciar trajetórias, dizendo, sem ter que dizer, que é possível sonhar - algo até hoje muito caro à pessoas e ainda mais aos negros.
Lembro de mim, no Edu que fui criança. Puxa?se tivessem mais papéis dados a negros ou mais atores, em outros contextos dentro das histórias, muita coisa poderia ser mudada.
Mas o meu tempo é agora. E que bom aplaudir Duda, Jéssica e Gabz. Não é uma semana qualquer.
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