Eduardo Carvalho

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Opinião

'Já é Carnaval, cidade': sustentabilidade vira foco e promete agitar folia

Ainda distante - pra muitos - no calendário, o Carnaval figura como a festa da liberdade e da alegria, mas, nos últimos tempos, vem tornando-se um espaço para refletir sobre assuntos que marcam o cotidiano, sendo um deles, o da consciência ambiental. Um sonho distante? Nem tanto, já que a sustentabilidade vem marcando compassos promissores no que compete ao pré e pós-folia, prometendo validar uma agenda que se espalha pelo ano.

Em Recife, o artista plástico Leopoldo Nóbrega, responsável pela montagem do Galo da Madrugada desde 2018, vem criando possibilidades através do símbolo característico pernambucano. "Acredito que através da construção sob a nossa coordenação, conseguimos comunicar sobre temas que impactam no nosso dia a dia, enfatizando a sustentabilidade e a colaboração. Ano a ano, diminuímos o uso de matéria-prima virgem para revestimento da escultura, chegando, em 2023, a 90% dos materiais serem reaproveitados", afirma Nóbrega.

Apesar dos avanços, Leopoldo reconhece que a sustentabilidade no Carnaval ainda enfrenta desafios, especialmente em relação à disponibilidade de alternativas ecológicas para materiais e práticas comuns na festa. "De forma geral (em Recife, em Olinda e no Brasil), a sustentabilidade ainda não é algo tão difundido na prática do Carnaval. [...] Não existem muitas alternativas sustentáveis acessíveis para substituir as lonas e adesivos decorativos usados em larga escala para envelopamento cenográfico, bem como a sublimação (método de impressão que transfere o desenho para o tecido, muito usado nos abadás), sem contar com fontes energéticas não renováveis, como geradores", explica, adiantando que os trabalhos com o Galo 'sustentável' estão a pleno vapor.

Ainda assim, há para onde se olhar e ter boas notícias. Na Bahia, o Camarote Salvador, que completa 25 anos em 2025, celebra a data com a ambição de ser o camarote mais sustentável do mundo. E os números de 2024 mostram que essa meta não é só um sonho: foram 14.636 empregos gerados, R$ 137.810,43 de renda para a cooperativa de reciclagem local, economia de 90 mil litros de água e 24,6 toneladas de resíduos reciclados. Para Camilla Lanza, diretora de Produção da Premium Entretenimento, que realiza o Camarote Salvador, a chave para o sucesso está na mudança de mentalidade. "Hoje a gente já consegue olhar o resíduo, ver beleza no resíduo, ver receita um resíduo", declara.

Um dos exemplos de sucesso do Camarote Salvador em 2024 foi também um processo de reutilização: as lonas da edição anterior foram transformadas em sacolas distribuídas aos clientes. "Viraram sacolas nas quais a gente distribuiu as camisas para o nosso cliente", conta Camilla, detalhando que, com o evento, a empresa fez uma doação de cerca de 405,5 kg à iniciativa Costura Solidária Sustentável, um grupo de costureiras negras que atua com o propósito de produzir peças sustentáveis e gerar renda.

Outro ponto destacado por ela foi o treinamento da equipe de garçons para incentivar a reutilização dos copos pelos foliões. Para 2025, a meta é ainda mais ambiciosa: tornar-se o primeiro camarote Lixo Zero do mundo. Camilla acredita que, em breve, a sustentabilidade deixará de ser uma escolha para se tornar uma obrigação. "A sustentabilidade é o caminho, hoje ela é uma escolha. Daqui a pouco ela vai virar uma obrigação", pontua. Para além do lixo zero, o camarote também planeja ampliar suas ações sociais. "Queremos adotar os ODS de pobreza e fome zero. O Brasil é um país de extrema pobreza, infelizmente, e eu acho que a gente pode abraçar isso de uma outra forma, com apoio dos nossos clientes", diz Camilla.

No Rio de Janeiro, a Riotur também tem se empenhado em tornar o Carnaval mais sustentável. O apoio ao projeto Sustenta Carnaval, que recolheu 26 mil toneladas de fantasias na Marquês de Sapucaí para reaproveitamento em 2024, é uma das iniciativas de destaque. A compra de créditos de carbono para compensar as emissões do evento também faz parte da estratégia da Riotur para minimizar o impacto ambiental do Carnaval.

Para o ano que vem, a empresa que cuida dos principais eventos relacionados à capital fluminense planeja intensificar as ações de conscientização dos foliões e as parcerias para a gestão de resíduos, buscando um Carnaval mais verde e responsável. "Vamos incrementar o projeto de divulgação e de conscientização dos foliões e as parcerias de mídia e dos nossos parceiros tanto de organização do carnaval de rua como nos desfiles", afirma a empresa.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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