Eduardo Carvalho

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Opinião

Fernanda Torres mandou ver filmes brasileiros, e eu fui

''Aproveita esse embalo do 'Ainda Estou Aqui' e vai pros outros filmes brasileiros com sua família", disse a nossa 'oscarizável' Fernanda Torres há algumas semanas em suas redes sociais. Como pedido assim a gente não nega, rumei para a sala de cinema mais próxima e, por lá, me uni a tantos assistindo a um filme que nos toca, de maneira diferente do que o estrelado por Torres, mas não menos importante, por tratar de uma questão que nos atravessa diariamente: a representatividade LGBTQIAPN+.

Em ''Avenida Beira-Mar", dirigido por Maju de Paiva e Bernardo Florim, um retrato do assunto a partir da história de Mika, uma menina trans, e sua amizade com a também jovem Rebeca. A trama, ambientada em Piratininga, Niterói, explora a delicadeza da pré-adolescência e os desafios da descoberta da identidade de gênero, num contexto social que nem sempre se torna o mais confortável para tantas descobertas, marcada por preconceitos.

A escolha do tema, segundo os diretores, parte da urgência em abordar a temática da identidade de gênero na infância em um momento em que direitos fundamentais da comunidade LGBTQIAPN+ estavam sendo questionados. "O processo de deslegitimação de mulheres e homens trans - mais ainda, de crianças trans - foi violento demais, infiltrado pelos mais descabidos preconceitos", afirma o diretor Bernardo Florim.

Para Maju de Paiva, o filme busca "misturar esses dois assuntos, mas abordando não pelo viés da diferença, daquilo que nos distancia, mas pela identificação, do que nos aproxima uns dos outros".

A importância da obra reside em sua capacidade de "criar empatia entre espectador e personagens", destaca Maju. Segundo a própria diretora, "através da arte talvez seja possível, sim, sensibilizar e impactar, nem que seja um pouco, até os espectadores mais resistentes". Bernardo completa afirmando que a presença de personagens LGBTQIAPN+ nas telas "amplia nossa visão de mundo", numa arte que cada vez mais pode - e deve ser - "uma porta aberta entre nós e o outro".

Em "Avenida Beira-Mar", a infância trans é retratada de forma natural e autêntica. "Nossa intenção sempre foi naturalizar a infância trans. Retirá-la de um lugar exótico ou melodramático", explica o diretor.

Coração do filme, a amizade entre Mika e Rebeca é o grande fio condutor da história, mesmo ditada pelas diferenças socioeconômicas das famílias, e que ganha como cenário a praia, espaço de liberdade. Para Milena Pinheiro, que interpreta Rebeca, o filme "passa a mensagem de que a Rebeca era a única que olhava a Mika do jeito que ela realmente é, sem nenhum tipo de preconceito".

Já para a xará Milena Gerassi, a experiência de interpretar Mika foi transformadora. A atriz conta que, para se preparar para o papel, precisou "se colocar no lugar de muitas que estão por aí na rua" e "entender quem ela era da cabeça aos pés". A atriz também destaca a importância da representatividade, afirmando que "entender essa vontade de 'roubar' as roupas que mostrassem quem ela era de verdade e se sentisse na sua própria pele" foi fundamental para a construção da personagem.

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"Avenida Beira-Mar", 'Ainda Estou Aqui', 'Malu'.... O que há de comum? O tratar da vida brasileira com os olhos que merecem atenção, sobretudo pela maneira respeitosa com que pode nos refletir no espelho enquanto sociedade.

'Avenida' nos convida a pensar sobre a importância de histórias que celebrem a diversidade com o filtro da empatia. Saí, com certeza, outro Eduardo. Obrigado por ter falado que era pra ir assistir um filme brasileiro, Fernanda. Corra pro cinema você também, leitor.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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