Fernanda Torres mandou ver filmes brasileiros, e eu fui
Ler resumo da notícia
''Aproveita esse embalo do 'Ainda Estou Aqui' e vai pros outros filmes brasileiros com sua família", disse a nossa 'oscarizável' Fernanda Torres há algumas semanas em suas redes sociais. Como pedido assim a gente não nega, rumei para a sala de cinema mais próxima e, por lá, me uni a tantos assistindo a um filme que nos toca, de maneira diferente do que o estrelado por Torres, mas não menos importante, por tratar de uma questão que nos atravessa diariamente: a representatividade LGBTQIAPN+.
Em ''Avenida Beira-Mar", dirigido por Maju de Paiva e Bernardo Florim, um retrato do assunto a partir da história de Mika, uma menina trans, e sua amizade com a também jovem Rebeca. A trama, ambientada em Piratininga, Niterói, explora a delicadeza da pré-adolescência e os desafios da descoberta da identidade de gênero, num contexto social que nem sempre se torna o mais confortável para tantas descobertas, marcada por preconceitos.
A escolha do tema, segundo os diretores, parte da urgência em abordar a temática da identidade de gênero na infância em um momento em que direitos fundamentais da comunidade LGBTQIAPN+ estavam sendo questionados. "O processo de deslegitimação de mulheres e homens trans - mais ainda, de crianças trans - foi violento demais, infiltrado pelos mais descabidos preconceitos", afirma o diretor Bernardo Florim.
Para Maju de Paiva, o filme busca "misturar esses dois assuntos, mas abordando não pelo viés da diferença, daquilo que nos distancia, mas pela identificação, do que nos aproxima uns dos outros".
A importância da obra reside em sua capacidade de "criar empatia entre espectador e personagens", destaca Maju. Segundo a própria diretora, "através da arte talvez seja possível, sim, sensibilizar e impactar, nem que seja um pouco, até os espectadores mais resistentes". Bernardo completa afirmando que a presença de personagens LGBTQIAPN+ nas telas "amplia nossa visão de mundo", numa arte que cada vez mais pode - e deve ser - "uma porta aberta entre nós e o outro".
Em "Avenida Beira-Mar", a infância trans é retratada de forma natural e autêntica. "Nossa intenção sempre foi naturalizar a infância trans. Retirá-la de um lugar exótico ou melodramático", explica o diretor.
Coração do filme, a amizade entre Mika e Rebeca é o grande fio condutor da história, mesmo ditada pelas diferenças socioeconômicas das famílias, e que ganha como cenário a praia, espaço de liberdade. Para Milena Pinheiro, que interpreta Rebeca, o filme "passa a mensagem de que a Rebeca era a única que olhava a Mika do jeito que ela realmente é, sem nenhum tipo de preconceito".
Já para a xará Milena Gerassi, a experiência de interpretar Mika foi transformadora. A atriz conta que, para se preparar para o papel, precisou "se colocar no lugar de muitas que estão por aí na rua" e "entender quem ela era da cabeça aos pés". A atriz também destaca a importância da representatividade, afirmando que "entender essa vontade de 'roubar' as roupas que mostrassem quem ela era de verdade e se sentisse na sua própria pele" foi fundamental para a construção da personagem.
"Avenida Beira-Mar", 'Ainda Estou Aqui', 'Malu'.... O que há de comum? O tratar da vida brasileira com os olhos que merecem atenção, sobretudo pela maneira respeitosa com que pode nos refletir no espelho enquanto sociedade.
'Avenida' nos convida a pensar sobre a importância de histórias que celebrem a diversidade com o filtro da empatia. Saí, com certeza, outro Eduardo. Obrigado por ter falado que era pra ir assistir um filme brasileiro, Fernanda. Corra pro cinema você também, leitor.
19 comentários
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.
Jose Araripe Cavalcante Junior
Entre os leques de preconceitos que alguns brasileiros gostam de abanar para refrescar a preguiça cultural, está o a priori contra o cinema nacional, este merece estudo da Nasa. No geral são os mesmos que não conhecem/conheceram nada do grande repertório histórico do passado e presente de nossos filmes. Praticam com orgulho o não vi e não gostei. A origem da síndrome? Vício em filme americano? Em parte, sim, mas aposto que os cientistas vão detectar um vírus pior: complexo de vira lata, a velha submissão ao principal colonizador da industria de consumo. Quem perde com isso? Nosso cinema? Em absoluto. Perdem os que deixam de apreciar belas preciosidades, e que vão permanecer em seus claustros mentais, sem conhecer o que nem nunca nem prestaram atenção, tipo criançona que cresce sem comer verduras, ou mesmo feijão, mas que acha hamburguer a melhor comida do mundo. Mais felizes sem duvida são o que apreciam diferentes culinárias, sem bossalidade.
Marcos Fernandes dos Santos
Não é atoa que as bilheterias de filmes nacionais e principalmente nos USA, estão em queda livre, ninguém aguenta mais essa massiva imposição de filmes com temas Lgbt ou Trans, deveria haver um equilíbrio sobre temas.
Paulo Eduardo Silva Lins Cajazeira
Importante apoiarmos e vermos mais filmes da produção nacional. Isso, entre outras coisas chama-se de "brasilidade" e atenção à produção cinematográfica nacional. Veja de tudo, desde filmes religiosos à de ficção científica. Precisamos ser trabalhar a nossa criticidade.