Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Quero viver no Brasil de Rebeca, Rayssa e Jarid
Eu conheço as estatísticas. Sei quem mais morre no Brasil, quem tem os melhores empregos e quem tem os piores salários. Conheço bem o buraco onde nos metemos em 2016 e o abismo no qual despencamos em 2018: pandemia, crise econômica e crise política. Às vezes acordamos pensando que em 500 anos nada mudou... Será que um dia vai mudar?
Não sou o rei dos esportes, sempre fui dos últimos a ser escolhido na educação física e não acompanho muito os canais que transmitem jogos e lutas 24 horas por dia. Mas sempre gostei das Olimpíadas e de seguir as jornadas dos atletas. Saber quem são e de onde vêm.
Em 1992, nos primeiros Jogos Olímpicos que acompanhei, eu tinha 8 anos, "lutava" judô, e vibrei com o ouro do Rogério Sampaio. Agora, em Tóquio, me emocionei com as duas medalhas de Rebeca Andrade e com a prata de Rayssa Leal -- a Fadinha. Para quem começou a assistir às Olimpíadas com o Brasil suando para levar 3 medalhas pra casa, em Barcelona, ver o Brasil já com 14 medalhas faz parecer que algo mudou. Ainda mais quando a estrela da vez, ao contrário de Gustavo Borges ou Rogério Sampaio, em 1992, é uma mulher negra, de Guarulhos (SP), que começou a praticar ginástica em um projeto social.
Quem escreve o Brasil de Rebeca e Rayssa?
Na segunda década do século XXI, as mulheres negras (e também as indígenas) não estão revolucionando suas histórias apenas nos esportes. Contra todas as probabilidades, estão conquistando seu espaço na política, no jornalismo, na medicina e nas artes.
E quem conta a história desse Brasil que pulsa, de Rebecas e Rayssas? Você quer ler essas histórias?
Nesta sexta (6), vamos lançar um livro, "Geração 2010: o sertão é o mundo" (Editora Reformatório), em que um dos destaques é a escritora Jarid Arraes, uma mulher negra nascida e criada no sertão do Cariri, no Ceará, que venceu o Prêmio APCA 2019 e o Prêmio Biblioteca Nacional 2020, ambos nas categorias contos, com seu livro "Redemoinho em dia quente" (Ed. Companhia das Letras). Estão neste livro, também, narrativas escritas por mulheres indígenas como Julie Dorrico e Márcia Wayna Kambeba.
Ter mulheres negras e indígenas entre as melhores escritoras vivas faz parte de um Brasil no qual acredito e no qual quero viver. Um Brasil que tem lutado, desde o começo deste século, para romper com sua história de quinhentos anos de escravidão, colonialismo e genocídio. Há reação conservadora contra essas mudanças que descambaram na eleição do atual presidente de extrema-direita. Alguns deram o nome de "guerra cultural" a essa reação histérica de quem perde seus privilégios.
É a reação de quem quer deixar tudo como está. Que quer ver as mulheres negras, indígenas e periféricas longe dos pódios, longe dos prêmios literários. Que quer seguir contando histórias sobre a mesma ótica: a desbotada ótica do homem branco que invadiu essas terras há 500 anos.
Quando falo de mulheres negras, indígenas e periféricas no topo do pódio -- seja dos esportes, da medicina ou da literatura -- não estou falando apenas destas mulheres, mas de um país novo que nasce com elas. Os pit bulls ladram (e até mordem), mas a caravana não para. Ainda bem.
O que: Lançamento do livro "Geração 2010: o sertão é o mundo" (Ed. Reformatório)
Quando: Sexta-feira, 06/08, a partir das 19:30h
Onde: YouTube da Editora Reformatório -- https://www.youtube.com/user/mnocelli
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