Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Tuxá Toidé: conheça o podcast de Tayná Cá Arfer Tuxá
Tayná Cá Arfer Tuxá ou Tayná Chayenne é indígena do povo Tuxá, da Aldeia-mãe, localizada na Bahia, nordeste do Brasil. A jovem de 14 anos, decidiu compartilhar algumas escritas de resistência de sua autoria desde o seu pertencimento ao povo Tuxá, um dos 305 povos originários que habitam o território nacional. Para isso criou o podcast Tuxá Toidé na rede social Instagram onde inaugurou com o poema Toidé dzene tsoro radda nuñe, que foi compartilhado pela Articulação dos Povos Indígenas (APIB), pois dialoga com o momento presente ao fazer resistência aos projetos de exploração que atacam os direitos indígenas, como a PL 490/2007.
História e língua do povo Tuxá (Bahia, Nordeste do Brasil)
O povo Tuxá, segundo o Instituto Socioambiental (ISA), vive principalmente na cidade de Rodelas, uma aldeia urbana com mais de 60 casas. Ocupavam diversas ilhas, sobretudo a Ilha da Viúva, no Rio São Francisco, que foi submersa pela construção da hidrelétrica de Itaparica, projeto desenvolvido pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco-CHESF, afogando o território ancestral do povo, o D'zorobabé.
Por conta disso, os Tuxá foram transferidos para três áreas: um grupo vivendo nos limites dos municípios de Ibotirama (Área Indígena Tuxá de Ibotirama), outro no município de Rodelas (Áreas Indígenas Tuxá de Rodelas e Nova Rodelas), ambos no estado da Bahia, e outro à margem direita do rio Moxotó, junto aos limites do município pernambucano de Inajá, onde se situa a Terra Indígena Tuxá da Fazenda Funil.
O poema da Tayná tem como título Toidé dzene tsoro radda nuñe, que na língua materna dzubukuá traduz-se como "Resistir para existir terra protegida".
A língua materna ainda é negada em buscas comuns na internet. Porém, já é possível vislumbrar pesquisas que reiteram sua presença enquanto língua em revitalização e trabalhada na educação escolar do povo, como a tese do pesquisador Leandro Durazzo, que estudou os processos históricos e socioculturais da língua, reiterando assim a existência do dzubukuá à família Kariri e tronco Macrô-Jê. Interesse manifesto dos próprios professores Tuxá, a tese colabora para o reconhecimento da diversidade plurilinguística indígena no país. Nesse link você conhece o material publicado: Cosmopolíticas Tuxá: conhecimentos, ritual e educação a partir da autodemarcação de Dzorobabé.
Poema inaugural no podcast Tuxá Toidé
Conheça um trecho do poema de Tayná Cá Arfer Tuxá e veja a potência da palavra poética indígena:
Toidé dzene tsoro radda nuñe
E se eu te contar uma história real?
Onde morremos todos os dias desde o navio de Cabral
Onde os nossos corpos se tornaram escandalização
Onde a nossa existência é tratada como ilusão.
Onde na aldeia nos calam
E nos julgam na urbanização
Onde somos incriminados,
mesmo quando somos assassinados
Era Abya Yala, virou área colonizada.
O que era Pindorama virou Brasil,
O que era floresta virou prédio,
O que era lar virou garimpo,
O que era vida virou destruição.
Minha identidade foi mantida no anonimato
Minha terra foi maltratada
Me forçaram a rezar
Me deixaram ser ar.
Nos perguntam de onde viemos
Mas a verdade é que sempre estivemos aqui
A diferença é que agora eu preciso lutar até para existir
Meu canto virou grito que pede socorro,
Minha flecha é proteção,
Minha chanduca é orientação.
[...]
Se teu garimpo me mata,
Se corre mercúrio no corpo dos meus parentes,
Se teu agro não é tech, teu agro não é pop, teu agro é genocídio.
Se tem PL decidindo se eu vou viver,
Se aquele que deveria me proteger, foge de helicóptero quando me vê.
Saiba mais
Nesse link você acessa o podcast Tuxá Toidé, e escuta o poema na íntegra: Tayná Cá Arfer | Tuxá Toidé
Rede social da poeta:
InstagramTayná Cá Arfer Jurum Tuxá (@taynachaianne)
Instagram do Podcast: Tayná Cá Arfer | Tuxá Toidé (@tuxatoide)
PL 490/2007: Para saber mais por que este projeto de lei ataca os direitos indígenas clique aqui: APIB: Nota Técnica da APIB sobre o PL 490 | OBIND
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