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Pesquisa da USP acha microplásticos em pulmões humanos
Em achado científico inédito no mundo, nove tipos de microplásticos foram detectados em pulmões humanos em uma pesquisa feita em São Paulo. O estudo foi realizado pelo Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e liderado pelo engenheiro ambiental Luís F. Amato Lourenço em seu pós-doutorado.
Foram encontrados fragmentos submilimétricos em tecidos pulmonares de 13 indivíduos, obtidos em autópsias, numa amostragem de 20 indivíduos.
Eram partículas menores do que 5,5 µm (mícrons ou micra, o equivalente a um milésimo de milímetro) e fibras que variavam de 8,12 a 16,8 µm.
As amostras foram coletadas em 2019 e as análises realizadas durante 2020. O trabalho foi reconhecido e aprovado no dia 12 de maio de 2021 pela publicação científica internacional Journal of Hazardous Materials e está online desde 24 de maio. Consta da programação para a edição de agosto da revista.
"Estudos anteriores já haviam demonstrado que estamos ingerindo e que havia microplásticos no ar de cidades como Paris e Londres. O que o estudo da USP identificou foi a presença de partículas dentro dos pulmões. É a primeira vez no mundo", diz a supervisora do estudo, a professora Thaís Mauad. "Conseguimos medir as partículas. Essa era uma questão: que tamanho consegue chegar ao pulmão? O que passa pelo nariz e pelos mecanismos de defesa respiratórios?", relata.
Além de encontrar os microplásticos, a pesquisa quantificou, mediu e tipificou os materiais através de espectroscopia Raman, análise realizada pelo Instituto de Química da USP. Foram identificados polipropileno, polietileno, cloreto de polivinila, acetato de celulose, poliamida, polietileno copolipropileno, poliestireno, poliestireno cocloreto de polivinila e poliuretano. Os mais comuns foram polipropileno e polietileno.
O polipropileno é usado em embalagens flexíveis, copos plásticos, tampas de refrigerantes, cadeiras e brinquedos. O polietileno serve para a fabricação de garrafas PET e sacolas plásticas.
"Coincidentemente, são os materiais mais usados em embalagens e produtos de uso único", diz Luís Amato, que também fez seu doutorado na área de poluição ambiental, no mesmo laboratório da USP. A presença de fibras de outros materiais, segundo ele, aponta para a origem em tecidos sintéticos e carpetes.
O pesquisador diz que foi surpresa verificar que os fragmentos atingiram várias partes dos pulmões. "Para chegar ao pulmão, a partícula tem de passar por uma série de barreiras físicas e também biológicas, porque o organismo tem mecanismos para se defender e expelir corpos estranhos. Mas vimos que elas chegam a regiões bem profundas. É assustador", observa.
"Nenhum outro grupo no mundo tinha chegado a esse resultado e feito a caracterização", afirma. Amato alerta para outras características encontradas nos fragmentos, como a coloração, indicativa de aditivos, e sinais de degradação do material.
"Com a temperatura e demais injúrias ambientais, as substâncias vão sendo expostas a bactérias que vão se grudando a esse material e têm potencial tóxico maior ainda", afirma Thaís Mauad. No prosseguimento dos estudos, a ideia é colocar essas partículas em cultura para compreender como se comportam dentro de um organismo e investigar quais os potenciais malefícios para a saúde.
Outro estudo em fase de finalização é a quantificação dos tipos de polímeros no ar da cidade, em ambientes internos e externos, um monitoramento também inédito na cidade.
"Para nós, da USP, esse achado é um orgulho. Com dinheiro da Fapesp, usando tecnologias nacionais, chegar a esse trabalho que vai contribuir com uma área do conhecimento que é nova e muito fragmentada", afirma Thaís Mauad.
"Plasticenta"
Na edição de janeiro de 2021 da revista "Environment International" foi publicado estudo revelando pela primeira vez a identificação de microplásticos em placentas de quatro mulheres. O artigo "Plasticenta: First evidence of microplastics in human placenta" foi realizado no hospital San Giovanni Calibita Fatebenefratelli, em Roma, na Itália, com seis gestantes que tiveram gestações e partos normais.
Os fragmentos eram nas cores azul, vermelho, laranja ou rosa e origem provável de embalagens, tintas, cosméticos e produtos de higiene pessoal. Estavam nos dois lados da placenta (no lado do feto e no lado materno) e também na membrana dentro da qual o feto se desenvolve.
Segundo os autores da pesquisa, é provável que as partículas tenham sido ingeridas ou inaladas pelas mães. O tamanho dos fragmentos - 10 mícrons (0,01 mm) - permitiria transporte pela corrente sanguínea e consequentemente a entrada nos corpos dos bebês durante a gestação.
O impacto não é conhecido, mas os pesquisadores indicaram que os microplásticos apontam prejuízo do crescimento fetal. Como carregam substâncias que atuam como desreguladores endócrinos, podem causar outros efeitos de longo prazo na saúde humana.
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