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Mara Gama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Olimpíada que já era verde tem pegada reduzida com pandemia

O ginasta resolveu testar na prática a resistência da cama da Vila Olímpica - Reprodução/Twitter
O ginasta resolveu testar na prática a resistência da cama da Vila Olímpica Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

22/07/2021 06h00

Nas redes sociais, aparecem imagens dos alojamentos de Tóquio. Ao erguer o colchão, estrados feitos de papelão. Retirando a capa dos colchões, aparece uma estrutura de polietileno transparente. Feitos sem misturas de materiais, os mais de 18 mil leitos da vila olímpica da capital japonesa serão facilmente reciclados sem perder suas propriedades depois do final dos jogos.

Já se sabia há tempos que a tocha olímpica seria feita de resíduos de alumínio. E, aos atletas que tiverem a sorte de subir aos pódios, serão dadas medalhas feitas com metais nobres retirados da mineração de mais de 6,2 milhões de celulares. Os próprios pódios são feitos de plástico retirado do mar e reprocessado.

O governo japonês esperava fazer um show de sustentabilidade com a Olimpíada em 2020, ofuscada pela pandemia da covid-19 e adiada para 2021. Por obra do acaso, justamente a pandemia pode contribuir para diminuir ainda mais a pegada de carbono dos Jogos.

Ela estava calculada em 2,73 milhões de toneladas de CO2, sendo que 1,5 milhão de toneladas de CO2 foram geradas na construção ou renovação de locais de competição e infraestrutura de apoio e hospedagem. As emissões totais já seriam inferiores às das duas Olimpíadas passadas, no Rio e em Londres.

E o plano do comitê olímpico japonês já era compensar a pegada da Tóquio 2020 com a compra de créditos de carbono de projetos locais com potencial de reduzir as emissões de gases de efeito estufa equivalentes a 4,38 milhões de toneladas de CO2.

Mas, com a exclusão das viagens aéreas de parte de equipes de esportistas e turistas de fora da ilha, o não uso das estruturas de hospedagem e alimentação para visitantes e a diminuição de geração de resíduos em estádios e nas ruas, a pegada de carbono total pode ter redução de cerca de 340 mil toneladas de CO2 por dia, de acordo com os organizadores do evento.

No que foi planejado e será executado, há muitos exemplos de avanços de soluções verdes nesta Olimpíada, das preparações aos legados.

No campo sintético do hóquei, a grama tem 60% de seus filamentos feitos com plástico verde, o polietileno renovável I'm green da Braskem. A meta será reciclar 65% dos resíduos gerados em todas as atividades.

A eletricidade para os Jogos foi anunciada como 100% de fontes renováveis. Mais recentemente, os organizadores esclareceram que entre 30% e 35% desta energia virá diretamente de fontes solares e de biocombustíveis.

O restante será sustentável através de compensações. Isto é, da compra de certificados de energia verde, que atestam que igual quantidade de energia limpa foi inserida na matriz elétrica. Ou ainda que igual quantidade deixou de ser consumida com melhorias em eficiência nas habitações da cidade. E por falar nisso, os apartamentos usados como alojamento dos atletas deverão ser alugados ou vendidos.

Os resultados para a cidade devem ser, portanto, radicalmente diferentes do legado das Olimpíadas do Rio. A cidade recebeu investimentos públicos e privados de cerca de R$ 40 bilhões para sediar os Jogos. Um dos legados, o sistema de BRTs, custou cerca de R$ 4 bilhões e devia reduzir o tempo de deslocamento em áreas da cidade não cobertas por linhas de metrô ou trem. Cinco anos depois, está com estações degradadas, sendo que 46 estão fechadas, tem frota insuficiente e coletivos lotados, conforme reportagem da Folha.

Também prometida para antes dos Jogos, a despoluição da baía de Guanabara pode vir a acontecer só em 2030, quando 80% do esgoto lançado no local seria tratado.