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Mara Gama

REPORTAGEM

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O melhor do cinema de impacto está na Ecofalante até 17 de agosto

Wayne Haynes, um dos sobreviventes do incêndio cuja história é tema do filme "Uprising" - Divulgação
Wayne Haynes, um dos sobreviventes do incêndio cuja história é tema do filme 'Uprising' Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

05/08/2022 06h00


O diretor francês Jean-François Camilleri, um dos responsáveis pela criação do selo DisneyNature e hoje presidente da Echo Studio, definiu: o cinema de impacto deve usar a emoção, a força da história e a técnica cinematográfica para transmitir sua mensagem e sensibilizar o grande público. Com isso, conscientizar, inspirar mudanças e incitar à ação.

Camilleri é o produtor internacional de filmes como "A Marcha dos Pinguins" (2005) e "Oceanos" (2009), que ajudaram a consolidar essa tipologia no cinema e despertaram a curiosidade e os brios de gerações de amantes da da natureza e hoje ativistas do clima.

É também produtor de "Caminhando sobre as Águas" (2021), que conta a história de uma jovem e de sua aldeia do norte do Níger, no meio do deserto, em sua batalha diária pela água, e a descoberta de um aquífero que vai transformar o cotidiano do local.

O filme é um dos destaques da Mostra Ecofalante de cinema, que segue até 17 de agosto, online e com sessões em cinemas, de graça, com o melhor do cinema de impacto produzido recentemente. E também exibe alguns emblemas do gênero, como o próprio "Oceanos", dentro da mostra dedicada ao diretor Jacques Perrin, e o quarentão "Koyaanisqatsi" (1982), ensaio em forma de documentário dirigido por Godfrey Reggio com trilha de Philip Glass que continua vivo, emocionante e gerando... impacto.

Entre os ótimos filmes da Ecofalante e numa outra vertente do cinema de impacto está "Uprising", filme em três episódios dirigido por Steve McQueen e James Rogam, sobre um incêndio que matou 13 jovens negros britânicos em 1981, durante uma festa de aniversário de uma garota de 16 anos, na área sudeste de Londres.

O filme recupera a evolução do contexto da época, em que a Frente Nacional, movimento violento de extrema direita, racista, no Reino Unido, pregava a expulsão dos negros do país. Quem viu "Medida Provisória" (2020), de Lázaro Ramos, vai encontrar uma das possíveis inspirações do roteiro, com a ideia de "repatriação" de negros brasileiros para países africanos.

O incêndio, que tem indícios fortes de crime, a resistência da polícia, dos investigadores e do governo em apurar o caso alimentam os ânimos para o Dia de Ação do Povo Negro, marcha de luto e revolta que tomou as ruas de várias cidades e que é considerada um marco da luta contra a injustiça racial na história do Reino Unido, e a revolta de Brixton, no mesmo ano, contra a violência policial. Como em outros filmes de McQueen, a música tem papel fundamental. Em "Uprising", Bob Marley mostra a importância do reggae para o movimento de resistência.

Em uma entrevista sobre o filme e outros dois docs, o diretor disse esperar que sua crônica rompa a bolha da complacência em questões que perduram por décadas. "Essas histórias estão agora no mundo, então ninguém mais pode alegar ignorância. Uma geração decidiu que não toleraria mais como a sociedade britânica o definia e revidou".

Dá para ver "Uprising" online pelo site da Mostra. "Oceanos", "Caminhando sobre as Águas" e "Koyaanisqatsi" têm exibições em salas que integram o circuito da Ecofalante. Para horários, locais e inspirações, consulte o site da Mostra Ecofalante.