Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Cop 27 deve focar nos mais vulneráveis
Cop da Implementação, Cop dos Vulneráveis. A 27ª Conferência das Partes da ONU para as Mudanças Climáticas, em Sharm El-Sheikh, no Egito, começa no próximo dia 6 de novembro com o desafio eterno de transformar promessas em progressos e um outro mais urgente de apontar medidas concretas para proteger os principais alvos das catástrofes do clima, as atuais e as futuras.
O contexto não é nada animador. As emissões de gases do efeito estufa seguem aumentando. Os relatórios mais recentes do painel da ONU, o IPCC, demonstram a gravidade da crise climática, com aumento da frequência e intensidade dos eventos drásticos. Esses eventos já comprometem a saúde e a segurança de milhões de pessoas e têm impactos na produção de alimentos e no acesso à água potável.
Como lição de casa da Cop 26 de 2021, em Glasgow, os países deveriam revisar e tornar mais ambiciosas suas metas de redução de emissões para 2030, as NDCs, com o objetivo de manter o aumento da temperatura global em 1,5 graus C (2,7 graus F). As NDCs deveriam ser apoiadas pelo financiamento, políticas e planos corretos. Até setembro, apenas 15 nações apresentaram essas atualizações.
Some-se a todo o quadro a desestabilização provocada pela guerra da Ucrânia, que deu um nó nos planos de transição energética de vários países.
E a Cop 27 com isso? O apelido Cop da Implementação se deve à expectativa geral de que governos, empresas, cidades e tomadores de decisões mostrem como estão encaminhando internamente os compromissos já assumidos nas conferências anteriores e as regras sacramentadas em Glasgow.
São esperadas demonstrações de progressos em acordos como que trata das florestas e uso da terra, em que 145 países se comprometeram a deter e reverter a degradação e a perda de área florestal até 2030; o compromisso sobre o metano, em que mais de 100 países prometeram reduzir em 30% as emissões do gás até 2030 e avanços do Cities Race to Zero (uma corrida rumo a emissões zero), programa que reúne 1049 cidades e governos locais para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 ℃.
Também são esperados planos de empresas agrícolas para livrar o desmatamento de suas cadeias de suprimentos. Entre as gigantes do setor, estão representantes do agro brasileiro. No Brasil, a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) anunciou que lançará um documento com sua posição em relação às NDCs brasileiras no próximo dia 18.
O segundo apelido, Cop dos Vulneráveis, se deve ao anseio de que a conferência avance nas decisões sobre financiamento climático internacional em três direções:
a) para processos de descarbonização da economia e seus efeitos;
b) com investimento em infraestrutura para regiões em que há possibilidade de adaptação às mudanças climáticas;
c) com recursos para mitigação de perdas e danos para os efeitos que já atingem populações e grupos mais vulneráveis.
Está claro que não basta apenas investir em processos de redução de emissões para combater as mudanças climáticas. É preciso abordar a adaptação de cidades e estruturas já para os eventos extremos que se anunciam.
E para os impactos sobre os quais não há possibilidade de adaptação, como perda de biodiversidade e aumento do nível do mar que inundará permanentemente países insulares, são necessários fundos internacionais para perdas e danos.
Entre os mais vulneráveis à crise do clima estão as crianças, que representam um terço da população mundial e são as que irão sofrer por mais tempo as transformações globais com desastres naturais, escassez de alimentos e água e aumento da transmissão de doenças.
Em seminário recente, o Instituto Alana para a defesa da infância, que vai participar de um painel da Cop 27, divulgou alguns dados sobre os impactos já sentidos:
* 1 bilhão de crianças e adolescentes estão extremamente expostos aos impactos das mudanças climáticas;
* 10 milhões de crianças e adolescentes tiveram que se deslocar devido a choques climáticos em 2020;
* 93% das crianças de todo o mundo vivem em ambientes com níveis de poluição de ar acima do que é considerado seguro.
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