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Mari Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fechar igrejas, comer cachorro e mais: A quem serve tanta escandalização?

Dan Stubach na comédia "Morte Acidental de um Anarquista", em 2016 - Divulgação
Dan Stubach na comédia "Morte Acidental de um Anarquista", em 2016 Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

22/10/2022 06h00

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Esta semana fiz algo que há muito tempo não fazia: ir a uma peça de teatro. Era uma montagem da comédia italiana "Morte acidental de um anarquista", do dramaturgo Dario Fo. Foi um momento de grande diversão em tempos tão pesados como o que estamos vivendo, mas que nos relembra a realidade, embora seja um texto dos anos 70.

Na peça, inspirada nos acontecimentos que se sucederam à morte de um anarquista numa delegacia em Milão e que gerou grande indignação e rebuliço midiático à época, um louco que tem o costume de se passar por outras pessoas acaba ocasionando várias peripécias em uma delegacia. Uma frase ficou marcada na minha mente: o povo gosta de escândalo. E isto me gerou várias reflexões sobre o momento atual.

O escândalo passou a ser a base do discurso, e quanto mais absurdo ele for, mais mídia ele gera. Basta ver veículos sérios, e outros não tão sérios assim, e outros que um dia foram sérios e hoje se dedicam à abobrinha, falando sobre acontecimentos que beiram o surreal. E às vezes são surreais mesmo, para não dizer mentirosos.

E quando a pessoa tem um pouco de iluminação, essa espetacularização do ridículo só cansa. Mas a gente precisa intervir e falar com pessoas que ainda não perderam a iluminação. Com as pessoas que não têm mais jeito, melhor nem dialogar porque pode ser contagioso.

Quando ouço falar que vamos comer cachorro, que igrejas serão fechadas, que vão implantar à força banheiros unissex, entre outras bobagens, fico com as seguintes dúvidas: qual é a escandalização pretendida com essa mentira? Qual a próxima escandalização que virá? A quem estão querendo escandalizar?

Voltando à peça, que é política e não partidária, como toda boa peça de arte, gostaria de finalizar agradecendo o trabalho magistral de todos os atores envolvidos nesta montagem. Que o escândalo pare de nos escandalizar!