Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Djamila Ribeiro, eu não menstruo e sou mulher, e aí?
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Vou falar algo que rende ódio e processo. O ódio de muitos de vocês eu já tenho, e quanto à isso, não tenho nem pena, só desprezo mesmo. Corro o risco de receber uma notificação extrajudicial aqui em casa, mas preciso falar.
FIquei estarrecida com a polêmica gerada pelas falas de Djamila Ribeiro sobre o termo "pessoas que menstruam", que é uma forma de abarcar homens trans no debate sobre os direitos reprodutivos, tão atacados quanto a existência de pessoas trans nesse nosso país ridículo.
Eu, como mulher sem útero e que não menstrua, fico estarrecida com certas falas de ditas feministas que ainda tratam esse debate sob um viés biológico, como se a existência da mulheridade fosse única e exclusivamente associada ao seu sistema reprodutor. E não é este feminismo que me representa.
Sabemos muito bem de todos os percalços que a mulher com útero sofre por ter um útero numa sociedade patriarcal, em que o útero é usado para subjugar as liberdades femininas. Ninguém está negando isso. Assim como ninguém está questionando a mulheridade de ninguém aqui.
Lembro de uma vez em que estive numa finada conferência de mulheres (no tempo em que o poder público ainda fingia que ouvia as mulheres) e um dos gritos de ordem me incomodou profundamente: "tire o rosário do meu ovário". Naturalmente, um grito de certa forma excludente.
O ponto a que quero chegar aqui é: nem toda mulher menstrua, fato. Nem toda pessoa que menstrua é mulher, outro fato. Usar uma retórica xoxa, capenga, anêmica, para justificar preconceitos e dizer quem é algo ou não sob uma régua que não é a da própria pessoa em questão é muito feio.
Relembro um trecho do "Devir cachorra" de Itziar Ziga, que postei em minhas redes sociais:
"Sempre acreditei na unidade de luta, o sistema tenta nos separar pra que tenhamos menos força, as putas num lado, as trans noutro, as feministas noutro, as okupas noutro, e na realidade temos que aprender a respeitar as diferenças, a não impor nossas ideias sobre os outros, nossos desejos físicos, sexuais, nossas ideologias. A não ser autoritárias".
Não sei a quem Djamila está querendo agradar com discursos excludentes e com métodos de intimidação questionáveis. É muito triste ver uma pessoa oprimida tomando atitudes opressoras. É triste não ver a autocrítica surgindo. É triste ver pessoas maravilhosas como o colega Noah Scheffel sendo ameaçadas por ditas feministas que não querem expandir o necessário debate sobre direitos reprodutivos por puro preconceito.
E na nossa digressão autodestrutiva, as trevas ganham poder. E ficamos cada vez mais longe de ter direitos reprodutivos que abarquem todas as pessoas...
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