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Mari Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Qual seu sexo biológico?': Pergunta em app de exercícios expõe transfobia

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Imagem: Getty Image

09/05/2023 06h00

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Este final de semana, vi mais uma vez como o nosso dia a dia não é acolhedor a pessoas trans. Estive vasculhando esses aplicativos que ajudam a manter uma rotina de exercícios e baixei um desses mais famosinhos. Na anamnese, a primeira pergunta é bem direta: "Qual o seu sexo biológico"? Assim, sem lubrificante nem nada.

Pensei nas existentes e inegáveis disparidades corporais e hormonais entre machos e fêmeas. Mas realmente isso é uma pergunta necessária, considerando que a hormonização a que pessoas trans se submetem altera e ameniza essas disparidades corporais?

E isso me traz muitos gatilhos de discussões infrutíferas que tive com pessoas bizarras que acham que o desempenho de pessoas trans em esportes coloca em desvantagem pessoas cis. É a velha transfobia disfarçada de preocupação com vantagens e desvantagens em esportes.

Li uma vez que mulheres negras com altos níveis naturais de testosterona estavam sendo banidas de competições por essa característica. A busca pelo tão cobiçado "fair play" não pode ser desculpa para preconceitos. Ou teríamos que barrar superatletas que naturalmente têm vantagens competitivas anormais, como podemos ver em várias competições.

Esses fatos também demonstram a falta de interesse (ou seria de financiamento?) da ciência em entender esses processos químicos e hormonais que envolvem as transições de pessoas trans. Corrijam-me se estiver falando alguma besteira, mas não conheço nenhuma linha de pesquisa científica que trate com afinco deste tema.

Voltando ao aplicativo, respirei fundo, parei nessa primeira pergunta, excluí meu cadastro na plataforma e deletei o aplicativo. Talvez, com estudos mais robustos sobre esses efeitos da hormonização, menos nos preocuparemos com o "sexo biológico" das pessoas e mais nos preocuparemos em otimizar as potencialidades do corpo humano.