Sindicatos demonizam o home office: é a melhor atitude?
Há duas semanas, publiquei aqui sobre a decisão do governo federal de procurar alguma forma de abolir a folha de ponto na maioria dos casos, trocando esse antigo controle pela pactuação de metas. Na mesma semana, uma entidade sindical resolveu publicar um texto demonizando a norma e todos os avanços que ela trouxe. E isso me incomodou de várias maneiras.
É óbvio que a norma tem seus deméritos. Primeiramente, ela não foi discutida com as bases mais interessadas e este foi um dos erros da equipe de gestão do governo. Impor qualquer coisa de cima para baixo vai gerar insatisfação e sensação de que o texto é incompleto. Em segundo lugar, tudo ficou para regulamentação inferior, e a capacitação, crucial para o sucesso do modelo, me parece insuficiente neste momento de grandes incertezas.
Cabe lembrar que, após seis anos de graves ataques ao funcionalismo, é grande o desejo reprimido por participação num governo a isso mais aberto; então, parece-me pouco acertado apenas jogar a norma. Isso deve ser acertado num momento posterior, em que avaliações do novo modelo precisarão ser feitas de forma minuciosa.
Isso não quer dizer, de nenhuma forma, que todo o normativo deve ser jogado no lixo. Apesar desses deméritos, há virtudes e inovações que conversam com o novo arranjo de trabalho imposto pela pandemia. Para várias atividades, não se faz mais necessário o controle ferrenho de ponto e nem mesmo o trabalho presencial. Várias empresas adotaram para si o teletrabalho, mesmo em formas híbridas. Para que o governo ficará de fora disso?
É óbvio que há um compromisso com a prestação de serviços à sociedade: isso não pode nem deve ser negado, e certas atividades demandam contato presencial com o cidadão, especialmente aquele mais carente e excluído da transformação digital pela qual passamos. O que não quer dizer, de forma nenhuma, que o home office é essencialmente ruim, como vi na famigerada nota.
Da mesma forma, é obrigação das entidades sindicais, e é para isso que as pagamos, atentar para evitar abusos nesse novo modelo de trabalho, como metas inalcançáveis e fim do direito ao tempo livre. Como disse no meu texto anterior, nada é motivo para tentativas de escravização do trabalhador.
Então, antes de chegar e dizer que a norma e suas premissas são ruins e que devem ser combatidas, contra a vontade dos trabalhadores, que já se adequaram a uma nova rotina de trabalho, é a hora de se voltar às suas bases e entender as vantagens e os problemas desse novo arranjo, e lutar para que as coisas boas permaneçam e as coisas ruins sejam mitigadas. Ou a representatividade dessas instituições será posta em xeque.
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