O silêncio do reitor Carlos Carlotti ao grito da USP
Pouco comentarei sobre a minha sensação de irritação ao assistir à entrevista do reitor da Universidade de São Paulo, Carlos Carlotti Jr., ao Roda Viva, da TV Cultura, na noite de segunda-feira (28).
Desconversas, incorreções e uma despreocupação com a situação calamitosa pela qual a universidade mais importante do país vem passando. Encher a boca para falar dos rankings que colocam a USP como a melhor universidade do país e se calar para os profundos problemas que vários institutos têm sofrido não me parece uma boa atitude.
Reiteradas vezes o reitor foi confrontado com a realidade de cursos como o de letras, sobre o qual já falei várias vezes aqui, e de artes visuais, que precisou cancelar disciplinas. E nada falou, além de um discurso já decadente de que está contratando, sem dizer que voltar aos níveis de professorado de 2014, agora, em 2023, quando há vários professores se aposentando ou se demitindo ou morrendo, sem a esperança de reposição, não supre a necessidade dos cursos.
Ficou claro também o caráter mercadológico e utilitarista do discurso. A universidade pública, como o próprio nome já diz, deve servir ao povo, e não ao mercado. Há lacunas históricas nesse entendimento, que devem ser supridas. Mas não é se promiscuindo com o setor privado, com absurdos como a cessão de espaço na cidade universitária para uma faculdade privada, que essa função será atingida.
Não é digno de uma das melhores universidades do mundo ter estudantes pobres, que dependem de assistência para se manter em seus cursos, em desespero por não conseguirem os auxílios necessários. Assim como não é digno de uma das melhores universidades do mundo ter prédios provisórios em situações degradantes. Assim como não é digno de uma das melhores universidades do mundo asfixiar o pensamento.
A entrevista só demonstrou o pouco interesse da reitoria em ouvir o que gritamos. Quem sabe se gritarmos para a sociedade qual o papel da universidade pública em suas vidas, ela se interesse em sair do pedestal e nos ouvir.
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