Precisamos falar mais sobre os efeitos do racismo ambiental
Eu gostaria de propor uma lista. Toda semana uma lista, Mariana? Sim, mais uma
Eu tenho feito um grande esforço pessoal, profissional e sobrenatural (piadinha!) para que a gente olhe para as questões ambientais com mais atenção, e para que elas sejam pontos fundamentais de debate, reflexão e de mobilização de esforços para mudanças.
Em 2018 criamos o "Clima e Território", com a ideia de que os coletivos e grupos de comunicação periférica, de várias cidades, começassem a produzir conteúdos conectando os problemas dos territórios com as mudanças climáticas. Fizemos formação sobre cidade, clima e criamos momentos diversos de trocas. Foi lindo, me emociona lembrar.
Veja, a intenção ali era, de novo, democratizar a palavra. Isso porque, se acreditamos que o acesso à informações que afetam nossas vidas é fundamental, todos deveriam poder consumir conteúdos de qualidade, que nos ajudam a desenhar cidades melhores.
Trago aqui a memória dessa construção, porque eu queria encaminhar uma questão para refletirmos. Como podemos avançar no tema de democratização da palavra, avançar no debate ambiental, abrir a roda e a discussão para que toda a população faça parte?
O racismo ambiental nos territórios periféricos, quilombolas, indígenas e rurais é mais do que atual, e é ele que propõe este debate O fato é que a gente segue em um processo de desmonte de políticas públicas ambientais, na verdade de todas as políticas públicas, e como sempre, e exaustivamente dito, as populações que não são parte da elite brasileira não participam dessa discussão.
Talvez você não saiba o que é racismo ambiental, tudo bem, falaremos sobre ele muito ainda. Aliás, aqui no ECOA já tem muito conteúdo sobre isso. Recomendo também a leitura diária da newsletter do ClimaInfo, que nos dá a dimensão da desgraça que vivemos no mundo, mas principalmente no Brasil. Não é uma news de felicidade, é um chamado para a urgência em forma de texto, um convite para olharmos para como as mudanças climáticas afetam diretamente as pessoas. É do micro para o macro.
Todo dia de manhã eu compartilho notícias sobre o que está acontecendo com o meio ambiente, notícias que leio nos portais, e nessa newsletter do ClimaInfo. Nem todo mundo que está a minha volta acompanha a pauta ambiental, climática, e acredito que levar essas informações para quem não vê ou não acha tão importante é fundamental.
Minha ansiedade é que todos entendam a relação entre as questões climáticas e a nossa vida diária, no chão, no território, lá em casa, na minha rua. Da falta de esgoto à importância de área de manancial na minha quebrada. E tanta coisa que eu vou escrevendo e tentando aprofundar por aí. É muito importante, quando a gente consegue conectar a possibilidade de falar sobre o tema por meio da comunicação periférica e dos meus textos semanais aqui no UOL, com quem não fazia ideia que o esgoto da rua tem relação direta com a forma que tratamos o planeta.
Eu sigo achando que a comunicação ambiental precisa chegar não só ao problema, mas a quem sofre com o problema. Chegaremos lá, estamos caminhando e construindo para isso. A gente sabe que muitas organizações ambientais existem e possuem um trabalho lindo de muitos anos, comunicação forte, e isso é louvável demais. Bebemos todos desta fonte, mas ainda não chegaram na minha rua, e não sei se chegaram na sua.
Planejar as cidades, as ruas e os territórios que desejamos, para um futuro que nos dá saudade é, e será, uma disputa, mas precisamos fazer parte da mudança. A informação baseada em ciência, verdade e realidade é urgente.
E a lista, Mariana?
Sim, verdade! Os exemplos e conexões entre a vida e o racismo ambiental são extensos, vamos elencá-los aqui e tentar abordá-los nas próximas semanas, pode ser? Então vamos lá:
- Racismo ambiental revela genocídio de negros e pobres nas periferias diariamente;
- As comunidades indígenas e quilombolas estão sofrendo de forma brutal com a pandemia do Covid-19;
- A constante falta de água nos bairros e periferias pelo país;
- O cheiro de gás que os complexos industriais jogam diariamente pelos mares ao lado de comunidades pesqueiras;
- A falta de áreas verdes nos territórios das periferias urbanas;
- Os crimes ambientais de Mariana e Brumadinho, que soterraram comunidades inteiras;
- As constantes enchentes no Jardim Pantanal, zona leste da cidade de São Paulo;
- As grandes obras que eliminam comunidades, como Belo Monte, e ainda causam um grande número de desemprego.
- Etc.
- Etc.
- Etc.
Vamos democratizar a palavra e abrir a roda para que todos falem, busquem e construam o planeta possível.
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