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Mariana Belmont

Precisamos falar mais sobre os efeitos do racismo ambiental

06/08/2020 04h00

Eu gostaria de propor uma lista. Toda semana uma lista, Mariana? Sim, mais uma

Eu tenho feito um grande esforço pessoal, profissional e sobrenatural (piadinha!) para que a gente olhe para as questões ambientais com mais atenção, e para que elas sejam pontos fundamentais de debate, reflexão e de mobilização de esforços para mudanças.

Em 2018 criamos o "Clima e Território", com a ideia de que os coletivos e grupos de comunicação periférica, de várias cidades, começassem a produzir conteúdos conectando os problemas dos territórios com as mudanças climáticas. Fizemos formação sobre cidade, clima e criamos momentos diversos de trocas. Foi lindo, me emociona lembrar.

Veja, a intenção ali era, de novo, democratizar a palavra. Isso porque, se acreditamos que o acesso à informações que afetam nossas vidas é fundamental, todos deveriam poder consumir conteúdos de qualidade, que nos ajudam a desenhar cidades melhores.

Trago aqui a memória dessa construção, porque eu queria encaminhar uma questão para refletirmos. Como podemos avançar no tema de democratização da palavra, avançar no debate ambiental, abrir a roda e a discussão para que toda a população faça parte?

O racismo ambiental nos territórios periféricos, quilombolas, indígenas e rurais é mais do que atual, e é ele que propõe este debate O fato é que a gente segue em um processo de desmonte de políticas públicas ambientais, na verdade de todas as políticas públicas, e como sempre, e exaustivamente dito, as populações que não são parte da elite brasileira não participam dessa discussão.

Talvez você não saiba o que é racismo ambiental, tudo bem, falaremos sobre ele muito ainda. Aliás, aqui no ECOA já tem muito conteúdo sobre isso. Recomendo também a leitura diária da newsletter do ClimaInfo, que nos dá a dimensão da desgraça que vivemos no mundo, mas principalmente no Brasil. Não é uma news de felicidade, é um chamado para a urgência em forma de texto, um convite para olharmos para como as mudanças climáticas afetam diretamente as pessoas. É do micro para o macro.

Todo dia de manhã eu compartilho notícias sobre o que está acontecendo com o meio ambiente, notícias que leio nos portais, e nessa newsletter do ClimaInfo. Nem todo mundo que está a minha volta acompanha a pauta ambiental, climática, e acredito que levar essas informações para quem não vê ou não acha tão importante é fundamental.

Minha ansiedade é que todos entendam a relação entre as questões climáticas e a nossa vida diária, no chão, no território, lá em casa, na minha rua. Da falta de esgoto à importância de área de manancial na minha quebrada. E tanta coisa que eu vou escrevendo e tentando aprofundar por aí. É muito importante, quando a gente consegue conectar a possibilidade de falar sobre o tema por meio da comunicação periférica e dos meus textos semanais aqui no UOL, com quem não fazia ideia que o esgoto da rua tem relação direta com a forma que tratamos o planeta.

Eu sigo achando que a comunicação ambiental precisa chegar não só ao problema, mas a quem sofre com o problema. Chegaremos lá, estamos caminhando e construindo para isso. A gente sabe que muitas organizações ambientais existem e possuem um trabalho lindo de muitos anos, comunicação forte, e isso é louvável demais. Bebemos todos desta fonte, mas ainda não chegaram na minha rua, e não sei se chegaram na sua.

Planejar as cidades, as ruas e os territórios que desejamos, para um futuro que nos dá saudade é, e será, uma disputa, mas precisamos fazer parte da mudança. A informação baseada em ciência, verdade e realidade é urgente.

E a lista, Mariana?

Sim, verdade! Os exemplos e conexões entre a vida e o racismo ambiental são extensos, vamos elencá-los aqui e tentar abordá-los nas próximas semanas, pode ser? Então vamos lá:

- Racismo ambiental revela genocídio de negros e pobres nas periferias diariamente;

- As comunidades indígenas e quilombolas estão sofrendo de forma brutal com a pandemia do Covid-19;

- A constante falta de água nos bairros e periferias pelo país;

- O cheiro de gás que os complexos industriais jogam diariamente pelos mares ao lado de comunidades pesqueiras;

- A falta de áreas verdes nos territórios das periferias urbanas;

- Os crimes ambientais de Mariana e Brumadinho, que soterraram comunidades inteiras;

- As constantes enchentes no Jardim Pantanal, zona leste da cidade de São Paulo;

- As grandes obras que eliminam comunidades, como Belo Monte, e ainda causam um grande número de desemprego.

- Etc.

- Etc.

- Etc.

Vamos democratizar a palavra e abrir a roda para que todos falem, busquem e construam o planeta possível.