Rodrigo Maia, queremos o impeachment do presidente Jair Bolsonaro
Acordei com saudade do samba, um copo americano com cerveja semi gelada, amigos e felicidade. Eu já nem lembro, mas tenho saudade dos meus e das celebrações.
Também acordei pensando: será que se batermos 200 mil mortos estaremos mais indignados? Será que se o número aumentar Jair Bolsonaro será de fato responsabilizado? Hein, Rodrigo Maia?
Nos últimos dias batemos a meta esperada pelos cientistas e ignorada pelo presidente da República Jair Bolsonaro. Até agora são mais de 100 mil pessoas mortas pela Covid-19, número oficial que não contempla as subnotificações.
Em abril, quando foi questionado pelas primeiras 5 mil mortes, o presidente lançou um despreocupado: "E daí?" aos jornalistas. E hoje, quatro meses depois, ultrapassamos 100 mil vidas perdidas, 100 mil pessoas, 100 mil nomes e sobrenomes, como canta lindamente Chico César e Bráulio Bessa, na canção Inumeráveis. E mais: quase três milhões foram contaminados pelo novo coronavírus. Muitas histórias de famílias marcadas pela dor, pelo luto e pelo desrespeito, pela negligência do presidente da República.
Segundo o Instituto Socioambiental, a pandemia já levou à morte mais de 652 indígenas no Brasil, com quase 23 mil casos confirmados e 148 povos afetados. Até hoje perdemos 149 quilombolas, e temos 4017 casos confirmados. Muitos dos que partiram são anciãs e anciões, lideranças de seus povos, que levam consigo sabedorias, conhecimentos tradicionais e histórias de luta, inspiração e aprendizados para as novas gerações.
Na última segunda, um levantamento feito pela Folha mostrou que 65% das vítimas morreram em hospitais públicos e 71% delas tinham alguma comorbidade. Entre os registros com informações raciais - sim, porque em 31% das mortes, não há informação sobre a cor das vítimas -, pretos e pardos foram 59% dos mortos. Todos os dados são do Sistema de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde e estão abertos para quem quiser enxergar.
Esses são dados que escancaram a desigualdade e o plano genocida do Estado brasileiro, ao virar as costas para a urgência de políticas públicas adequadas para conter a pandemia.
No dia 2 de junho, eu, meus amigos e a família do Tio Hélio chorou e sofreu a perda dele. Choramos e nos reunimos de longe. Escrevi sobre essa perda aqui.
Depois um amigo perdeu o pai.
Depois uma amiga perdeu o avô.
Depois perdemos a vizinha lá de casa.
Depois?
E assim perdemos 100 mil pessoas.
E o presidente sentado em sua sala de jantar, assiste incólume ao sangue escorrendo, às covas se abrindo e às lágrimas que caem sobre os corpos de 100 mil vidas.
Estamos perdemos os mais velhos, referências, mestres e mestras de povos da floresta. Estamos perdendo as pessoas que construíram este país.
E é por isso, e tanto mais, que a Coalizão Negra por Direitos protocolou o pedido de impedimento contra o presidente Jair Bolsonaro:
Para além dos incontestáveis crimes atentatórios às instituições democráticas por parte do presidente, envolvendo a proposição para que tropas tomassem o STF, informação recentemente noticiada pela revista Piauí, o pedido de impedimento apresentado pela Coalizão Negra Por Direitos aponta crimes de responsabilidade na violação dos direitos individuais e sociais por negligência ao combate à pandemia e na insuficiência de medidas que deveriam estar voltadas aos mais pobres, famílias negras, empregadas domésticas, trabalhadoras/es informais, comunidades quilombolas, populações rurais negras, das favelas e periferias.
As mais de 100 mil mortes por COVID-19 têm cor, classe social e se dão em territórios de maioria negra. Os impactos sociais da pandemia, o desemprego e desamparo por parte do governo atingem sobremaneira os mais pobres. É negra a maioria que depende do auxílio emergencial do governo para matar a fome de suas famílias e são negros os milhares que tiveram negado o acesso a esse benefício.
O documento protocolado ontem (12), exige que o Congresso Nacional respeite os pedidos que aguardam sua análise e construa a defesa da democracia pelo parlamento em conjunto com a sociedade. E que instaure o pedido de impedimento ao Presidente genocida Jair Bolsonaro, apresentado pela Coalizão Negra por Direitos, representação política do segmento majoritário da população brasileira.
Dia histórico!
Além das assinaturas das representações das 150 organizações negras que compõem o grupo, o documento tem o apoio de outras mais de 600 entidades de todo o país, além da adesão de artistas, intelectuais e ativistas.
Como juristas proponentes da peça jurídica, assinam Sheila de Carvalho, Maria Clara D?Avila, Maria Sylvia Oliveira, Gabriel Sampaio, Silvio Almeida, Allyne Andrade, Vera Lúcia de Araújo, Ágatha de Miranda, Thayna Yarady e Wanderson Pinheiro.
Um pedido amplo com o ineditismo da participação na denúncia de centenas de trabalhadoras e trabalhadores da saúde, domésticas, informais, de aplicativos, pedreiros, sambistas, professores, jovens membros de slams e fluxos de funk, ativistas de favelas, babalorixás e ialorixás, quilombolas, ribeirinhos, camponeses e pescadores.
Acompanhe o trabalho da Coalizão Negra Por Direitos: https://coalizaonegrapordireitos.org.br
Com Racismo Não Há Democracia: https://comracismonaohademocracia.org.br/
O deputado federal Rodrigo Maia finge não ver, mas já passou da hora de um grande #ForaBolsonaro.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.