Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Maria Bethânia é meu projeto de país
O que te deixa em paz?
O que te faz sorrir e chorar na mesma proporção?
Pensei muito sobre isso ao ouvir e ver o show da Maria Bethânia no sábado (13) de um carnaval não carnaval. Eu jamais saberia colocar em palavras o que significou esse momento de expansão dentro e fora de mim.
Quando eu era criança, a gente ouvia Bethânia, e nunca entendi muito bem a referência, mas aos sábados era um troca-troca de discos danada - íamos de Eliana de Lima a Gilberto Gil, passando por Jovelina Pérola Negra. Na época, também não entendia porque tínhamos tantos discos e tão pouca grana, mas eles eram os presentes que minhas tias ganhavam ou compravam. Só sei que eles surgiam em coisas velhas enviadas por alguém.
Ouvir Bethânia é sempre uma reinvenção do passado, um circular pelos mundos já vividos e uma tentativa de amortecer a queda de se estar no mundo. Talvez seja a voz ou talvez seja o significado de viver em um país em que, mesmo em desesperança, ainda nos brinda com Bethânia. Não sei explicar, mas uma vez nos palcos, ela, Maria nos ensina a estarmos ali inteiros. É impressionante!
Bethânia nos traz alegria no olhar, nos provoca por um novo lugar na humanidade. Dodô Azevedo em toda a sua sabedoria e poesia escreveu logo depois: "Durante sua live, certamente teve gente que, sentindo um impulso inexplicável de energia, pediu gente em casamento. Teve parente pedindo perdão de coisa feita 20 anos atrás...". Inclusive, recomendo que você leia o texto inteiro.
Um Brasil sem carnaval
Nesse ano, sem carnaval, eu fui para o Rio de Janeiro na casa de amigos queridos dos quais estava com tanta saudade. Peguei a estrada de carona com dois deles, chegamos. Um sopro da brisa do mar, o cheiro e a recepção de quem a gente gosta e quer muito estar perto. Longas conversas, cervejinha e uma dança pela saudade que se estendia há dez meses. A brisa daqui desta janela é diferente, não encostei na areia, mas vi o mar de pertinho e senti o cheiro que a praia exala pelo janelão da sala comprida.
Ouvindo Bethânia com os amigos e vendo a internet vibrar com aquela cantoria toda desenhada em emoção e esperança, eu fechava os olhos e me lembrava da imensidão de poder estar viva ao mesmo tempo em que Bethânia na Terra. E, quanto mais eu cerrava o olhar pra fora, mais dentro de mim eu via, e aí, era um sentimento de felicidade e imensidão de mundo mesmo.
Bethânia abriu os portais das melhores energias que faltavam nesse país. Bethânia me dá esperança. Bethânia é meu projeto de país. Era para as TVs abertas e fechadas passarem Bethânia, passarem Gil, Caetano, Jovelina Pérola Negra, Teresa Cristina, Arlindo Cruz, tudo que temos de melhor nesse país. Aquelas e aqueles que nos emocionam, que nos fazem celebrar em rodas e dançar, nos fazem parar, ouvir, imaginar e viver um país melhor.
Bethânia também me faz lembrar de um amigo médico infectologista, que está, como tantos profissionais de saúde, na linha de frente do atendimento às pessoas com covid-19, em mais de um hospital público, em São Paulo. Ele viu tantas pessoas morrerem, tantas pessoas que não conseguiram segurar a vida, porque ela falta em tantos lugares para além do vírus que nos atravessa. Mas lembrei que Maria Bethânia está dentro do meu amigo Pedro Campana, e que essa boniteza toda esteve com ele nos dias mais tristes e cansativos.
Obrigada!
Obrigada, Pedro, e todos profissionais de saúde, que entregaram seu tempo e vida para tentar salvar as pessoas. Viva o SUS! Obrigada as amigas Carlota e Luciana, aos amigos Zé e Diego, pela presença física nesse amor que nos coube perceber. Bethânia, você é e sempre será bem-vinda, obrigada. Essa conversa com você, na noite de sábado, deu uma energia inexplicável.
"Vacina, respeito, verdade e misericórdia", disse Maria Bethânia, nomeando nossos desejos na live do último sábado.
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