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Quilombolas do Vale do Ribeira mostram caminho para combater a fome no país
Em março de 2020, com a chegada da pandemia de covid-19, os quilombolas do Vale do Ribeira (SP) foram surpreendidos com o cancelamento dos contratos com escolas do Estado de São Paulo para a compra de produtos orgânicos das roças tradicionais.
A fartura de frutas, legumes e verduras — produzida a partir do Sistema Agrícola Tradicional Quilombola, um patrimônio imaterial do Brasil, e usada nas merendas escolares — precisou ganhar rapidamente um novo destino. Foi então que um plano emergencial desenvolvido pela Cooperativa dos Agricultores Quilombolas do Vale do Ribeira (Cooperquivale), com apoio do Instituto Socioambiental e parceiros, passou a escoar a rica produção dos quilombos do Vale do Ribeira para comunidades vulneráveis de São Paulo.
A favela de São Remo, na zona oeste da capital, foi uma das que passou a receber mais de 50 variedades de orgânicos fresquinhos. Num cenário de aumento vertiginoso da fome no Brasil, a conexão entre territórios, saberes e vivências fortaleceu laços ancestrais, cultivou afetos e mostrou a potência que existe no encontro do quilombo com a quebrada.
Mais de 61 milhões vivem insegurança alimentar no Brasil, aponta ONU — quase três em cada 10 brasileiros não têm garantia de comida. Quase 30% da população brasileira vive insegurança alimentar moderada ou grave, revela relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgado nesta quarta-feira (06).
Até o momento, foram distribuídas 332 toneladas de alimentos, com 43 mil pessoas sendo beneficiadas e 11 municípios atendidos. No total, R$ 1,5 milhão de renda foi gerada para a Cooperquivale.
A história do plano emergencial é contada no minidocumentário "Do Quilombo pra Favela - Alimento para a resistência negra", produzido pelo ISA em parceria com a Cooperquivale e as associações quilombolas do Vale do Ribeira. O filme mostra um modelo de ação que fortaleceu a segurança alimentar e apontou caminhos para combater a fome no país.
Hoje (9) acontece o lançamento na primeira feira mensal de produtos quilombolas, outro fruto da conexão quilombo-favela. Com sede no Galpão ZL, equipamento gerido pela Fundação Tide Setúbal e Sociedade Amigos do Jardim Lapena, em São Miguel Paulista, extremo da zona leste de São Paulo, a feira é parte da iniciativa Quilombo Quebrada, uma parceria do Mulheres de Ori e Kitanda das Minas com a Cooperquivale.
A exibição será seguida de debate provocado pela mesa de abertura "Racismo Ambiental e Insegurança Alimentar: na encruza entre quilombo e quebrada", que terá a participação de lideranças importantes do movimento negro do estado. Uma conexão importante, que além de apoiar quem precisa, ainda cria políticas públicas para subsistência, ao mesmo tempo que cobra o estado para que cumpra seu papel.
A mesa contará com a mediação de Andressa Cabral (jornalista do ISA, programa Vale do Ribeira) e participação de Nilce Pontes (coordenadora nacional da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas - CONAQ), Tania Moraes (conselheira fiscal da Cooperquivale - Cooperativa de Agricultores do Vale do Ribeira e membro da Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras - EAACONE), Gisele Brito (militante UNEAFRO, Coalizão Negra por Direitos e assessora de desenvolvimento de projetos do Instituto de Referência Negra Peregum) e Adriana Rodrigues (coordenadora Mulheres de Orì e analista de desenvolvimento do ISA).
Já dá para espiar o mini-documentário "Do Quilombo pra Favela - Alimento para a resistência negra" no site do ISA a partir deste sábado. Muito ansiosa!
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