Mariana Sgarioni

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"Sustentabilidade é também cultura", diz João Zeni, diretor da Electrolux

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Qual a razão de uma marca de eletrodomésticos estar entre as brincadeiras do São João de Caruaru, em Pernambuco? "Fazemos parte da vida das pessoas. E a cultura está na vida", define João Zeni, diretor de sustentabilidade da Electrolux na América Latina.

Pelo segundo ano consecutivo, Zeni representou a Electrolux no chamado São João Sustentável, que, entre outras ações, promoveu um sistema eficiente de reciclagem de materiais produzidos durante a festa. A ideia foi estimular e disseminar novas ideias de sustentabilidade para a população - com diversão, claro.

O executivo observa que a intenção da marca é chegar cada vez mais perto dos brasileiros - nada mais justo, uma vez que seu principal impacto ambiental, cerca de 86%, está no uso final do produto, ou seja, no consumidor. "Queremos diminuir este impacto e também influenciar hábitos de consumo."

Presente em 65% dos lares brasileiros, a Electrolux liderou o Índice Dow Jones de Sustentabilidade por 12 anos consecutivos, e é hoje considerada uma das empresas mais sustentáveis do mundo. Foi a primeira marca a criar um refrigerador livre de gases poluentes, e segue seu pioneirismo substituindo os gases dos aparelhos de ar condicionado, além de diversas outras ações.

João Zeni está hoje à frente das principais estratégias de sustentabilidade da marca no país e na América Latina. Engenheiro ambiental de formação, aos 38 anos, o executivo curitibano tem um extenso currículo ligado ao ESG, e já passou por outras gigantes como HSBC e Cielo. A seguir, ele fala sobre a Electrolux, de que forma a escolha de um eletrodoméstico pode ser um ativador de impacto positivo em toda a sociedade, e por que a chave do ESG está na inovação.

Ecoa: Por que a Electrolux decidiu participar do maior São João do mundo?

João Zeni: Fizemos um hackaton sustentável no São João de Caruaru. Levamos provocações aos jovens presentes, pedimos ideias de como deixar a festa cada vez mais sustentável. São ativações como esta que mostram que a Electrolux vem se aproximando cada vez mais das pessoas. A marca já faz parte da vida dos brasileiros: quase todo mundo tem pelo menos um aparelho da Electrolux em casa. Queremos mostrar que nossa marca também faz parte da cultura.

Ecoa: De que forma este investimento visa a redução de impactos da marca?

João Zeni: Fazer parte da cultura de um povo também significa sustentabilidade. Nós trabalhamos aqui no Brasil e estamos investindo cada vez mais no país, nacionalizando a produção: aqui geramos empregos, aqui pagamos nossos impostos, portanto, aqui devemos reduzir nossos impactos. Precisamos ter um olhar regional.

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Ecoa: Mais de 80% do impacto da Electrolux está no uso dos produtos, ou seja: nas mãos dos consumidores. Como vocês pretendem mexer neste ponteiro?

João Zeni: Nós já reduzimos 25% até 2022, comparando com 2015, e queremos reduzir mais 42% até 2030 comparando com 2021. Se a maior parte do nosso impacto climático atualmente está no uso, precisamos, em primeiro lugar, focar nisso e trazer aos consumidores aparelhos mais eficientes. Investimos muito em pesquisa e desenvolvimento para oferecer aparelhos mais sustentáveis e ao mesmo tempo que facilitem a vida das pessoas. O consumidor quer produtos sustentáveis, mas também quer algo fácil e eficiente. Não pode ter esforço. Então pensamos em aparelhos como refrigeradores, por exemplo, que, além de gastarem menos energia, aumentam a durabilidade dos alimentos.

Ecoa: A escolha de um eletrodoméstico pode gerar menos impacto em toda uma cadeia? Como isso acontece?

João Zeni. Pode sim. Temos refrigeradores da mais alta categoria energética: um dos produtos entrega 47% de redução de energia. Temos aspiradores que já contém mais de 50% de plástico reciclado. Entretanto, produtos devem ter mais do que eficiência energética e hídrica, usar menos matéria-prima e priorizar materiais de baixo impacto. Eles devem ser inteligentes também. Temos máquinas de lavar roupas, por exemplo, que foram pensadas para fazer a uma peça de roupa durar muito mais. Isso reduz o descarte de roupas, produz menos lixo, e gera impacto direto na cadeia têxtil e de vestuário. Para que o ciclo se feche, precisamos também engajar o consumidor.

Ecoa: E como vocês fazem isso?

João Zeni: Temos diversas campanhas de comunicação, por exemplo. Para a linha de refrigeradores, temos a hashtag: #naojoguenadafora. E orientações para ajudar a conservar os alimentos por mais tempo. Na linha de máquinas de lavar, tem a hashtag: #roupasemdatadevalidade. São campanhas que vão além de apenas vender eletrodomésticos. Elas estimulam mudanças de comportamento.

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Ecoa: Para o consumidor, ser sustentável é muito complexo?

João Zeni: As relações estão cada vez mais complexas e o mundo também. Para muitas pessoas, as questões climáticas vem gerando muita angústia. Existe hoje até o termo "ansiedade climática", que é uma espécie de medo crônico e paralisante de uma catástrofe ambiental. Muita gente sente essa complexidade e não sabe o que fazer. É por isso que nós, dentro das empresas, temos este desafio: facilitar, melhorar as experiências. Tudo isso sem pesar no bolso. A sustentabilidade não pode ser cara e precisa ser escalável. O consumidor exige produtos ambientalmente sustentáveis, mas não quer pagar mais por isso. A única saída aqui é a inovação. Muita pesquisa e desenvolvimento são necessários para encontrar este equilíbrio.

Ecoa: É um investimento alto.

João Zeni: Esta não é mais uma questão. Estamos em um ponto em que a sustentabilidade é uma obrigação. Tem que fazer e fim. É um critério de seleção, seja pelos consumidores, seja pelos investidores. Quem não enxergar a sustentabilidade como oportunidade agora, vai ver como um risco no futuro.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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