Mariana Sgarioni

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Opinião

Chave do ESG está na inovação, diz diretor da Electrolux

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Qual a razão de uma marca de eletrodomésticos estar entre as brincadeiras do São João de Caruaru, em Pernambuco? "Fazemos parte da vida das pessoas. A cultura está na vida, assim como a sustentabilidade também deve estar", define João Zeni, diretor de sustentabilidade da Electrolux na América Latina.

Pelo segundo ano consecutivo, Zeni representou a Electrolux no chamado São João Sustentável, que, entre outras ações, promove um sistema eficiente de reciclagem de materiais produzidos durante a festa.

A seguir, o executivo fala sobre a Electrolux, de que forma a escolha de um eletrodoméstico pode ser um ativador de impacto positivo em toda a sociedade, e por que a chave para mover o ponteiro do ESG está na inovação.

Ecoa: Por que investir no São João de Caruaru?

João Zeni: Fazer parte da cultura de um povo também é sustentabilidade. Nós trabalhamos aqui no Brasil e estamos investindo cada vez mais no país, nacionalizando a produção: aqui geramos empregos, aqui pagamos nossos impostos, portanto, aqui devemos reduzir nossos impactos. Precisamos ter um olhar regional.

Ecoa: Mais de 80% do impacto da Electrolux está no uso dos produtos. Como mexer neste ponteiro?

João Zeni: Investimos muito em pesquisa e desenvolvimento para oferecer aparelhos mais sustentáveis e ao mesmo tempo que facilite a vida das pessoas. O consumidor quer produtos sustentáveis, mas também não quer algo fácil e eficiente. Não pode ter esforço. Então pensamos em aparelhos como refrigeradores que, além de gastarem menos energia, aumentam a durabilidade dos alimentos.

Ecoa: A escolha de um eletrodoméstico pode gerar menos impacto em toda uma cadeia? Como isso acontece?

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João Zeni: Pode sim. Entretanto, produtos devem ter mais do que eficiência energética e hídrica, usar menos matéria-prima e priorizar materiais de baixo impacto. Eles devem ser inteligentes também. Temos máquinas de lavar roupas, por exemplo, que foram pensadas para fazer a uma peça de roupa durar muito mais. Isso reduz o descarte de roupas, produz menos lixo e gera impacto direto na cadeia têxtil e de vestuário. Para que o ciclo se feche, precisamos engajar o consumidor.

Ecoa: E como vocês fazem isso?

João Zeni: Temos diversas campanhas de comunicação, por exemplo. Para a linha de refrigeradores, temos a hashtag: #naojoguenadafora. E orientações para ajudar a conservar os alimentos por mais tempo. Na linha de máquinas de lavar, tem a hashtag: #roupaparasempre. São campanhas que estimulam mudanças de comportamento. O objetivo é entregar produtos sustentáveis, fáceis, intuitivos e que gerem engajamento. A principal saída aqui é a inovação. Muita pesquisa e desenvolvimento são necessários para encontrar este equilíbrio.

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Chuvas no RS: práticas sustentáveis de vinícola evitam ainda mais perdas

Os produtores de vinho do Rio Grande do Sul estão atordoados. O volume do estrago causado pelas chuvas desastrosas de abril e maio ainda não foi medido com precisão. Cálculos preliminares apontam que cerca de 500 hectares de plantações de uvas foram destruídos até agora - seja por inundações, seja por deslizamentos. Uma vinícola no pequeno município de Barão, localizada entre a Serra Gaúcha e o Vale do Caí, porém, se destaca por ter salvado boa parte de seu território e produção devido a práticas sustentáveis e agricultura regenerativa: a Valparaíso.

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Desde 2006, o engenheiro agrônomo Arnaldo Argenta produz vinhos naturais com diversos cuidados de preservação ambiental que evitaram perdas mais significativas diante das chuvas deste ano. A propriedade tem 7 hectares de plantações - entre eles foram preservados 4,5 hectares de uvas viníferas.

A mata ciliar preservada que margeia o rio da propriedade serviu de amortecimento e não deixou que as águas invadissem as casas - os vizinhos que desmataram tudo não tiveram a mesma sorte. "Nosso solo é sempre coberto por outras espécies que criam uma massa vegetativa e seguram a enxurrada. Desta forma, não temos erosão", explica Argenta.

Responsável por mais de 60% da produção de uvas no Brasil, o Rio Grande do Sul tem enfrentado desafios intermitentes por conta das mudanças climáticas. Alguns produtores já estão migrando para regiões mais altas e frias, como São Joaquim, em Santa Catarina. "O Sul do Brasil se aproxima de uma condição mais europeia. Mas não é a única região de viticultura do país, existem plantações no Piauí, Ceará, até no Cerrado. O Brasil serve de base para trabalhar as mudanças climáticas na viticultura, pois temos experiências de clima e de solo completamente diferentes. Somos um laboratório a céu aberto e poderíamos exportar essa tecnologia", sugere Henrique Pessoa dos Santos, pesquisador em fisiologia de produção da Embrapa Uva e Vinho.

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Para onde vai seu dinheiro? Fundo de sociobioeconomia quer educar mercado

"Queremos trazer histórias impactantes da Amazônia para o coração da Faria Lima". Contar histórias é uma das ferramentas que a gestora Fama Re. capital e a securitizadora Gaia pretendem usar para mostrar ao mercado financeiro a importância do investimento em um produto novo: a sociobioeconomia. Os dois players já conhecidos por investimentos de impacto se juntaram para lançar, no início do mês, o FIDC (Fundo Fama Gaia Sociobioeconomia).

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Trata-se de um fundo direcionado a financiar projetos de sociobioeconomia dos biomas brasileiros e também para facilitar o crédito a populações que em geral não têm acesso ao mercado financeiro. A lógica é a mesma do microcrédito: a juros mais baixos, o fundos emprestam dinheiro a negócios sustentáveis de pequeno porte, como agricultores familiares, quilombolas, povos originários, pequenos projetos de extrativismo sustentável, entre outros.

Para viabilizar a transação, as empresas vão contar com recursos de blended finances, que ajudam a reduzir as taxas de juros para os tomadores. O fundo será liderado por Andrea Alvares, atual presidente do conselho do Instituto Ethos, e que também já esteve à frente de empresas como Natura e PepsiCo.

"Não queríamos apenas mais um fundo onde as pessoas colocassem dinheiro ali. Queríamos inverter a lógica do mercado, dando prioridade a pessoas como assentados, ribeirinhos, quilombolas, pequenos agricultores. Queremos financiar pessoas que não têm crédito", explicou Fabio Alperowitch, da Fama.

Para isso, segundo ele, é importante que os investidores sejam bem informados e entendam também que não vão perder dinheiro. Pelo contrário. O retorno será garantido, segundo Alperowitch. "O produto é interessante: o investidor vai ganhar mais do que em um banco, uma poupança".

Do lado da Gaia, João Pacífico, completou: "A importância deste fundo é fazer o dinheiro chegar no destino certo. A gente precisa de uma revolução porque o modelo atual está falido: estamos perfurando para produzir combustíveis fósseis, liberando agrotóxicos, invadindo áreas indígenas, destruindo, depredando, poluindo, matando. E o mercado financeiro segue financiando tudo isso. Está tudo errado".

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Dica de leitura

Cradle to cradle: Criar e recriar ilimitadamente

Autores: William McDonough, Michael Braungart

Editora: Editora Gustavo Gili

Com argumentos claros e de forma bem-humorada, neste clássico a dupla de autores questiona a noção de que a indústria é obrigatoriamente prejudicial ao planeta. Eles propõem um sistema de produção em que o que o lixo se tornaria um nutriente. Trata-se de uma leitura fundamental para quem quer entender a economia circular e novas formas de economia.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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