Mariana Sgarioni

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Startup ganha prêmio com urna funerária sustentável feita de cogumelos

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Quem sonha levar os conceitos de sustentabilidade até o último suspiro, precisa conhecer a urna funerária "Navegar". Em formato de barquinho, ela é toda produzida a partir do micélio de cogumelos e, se jogada ao mar, pode se dissolver em poucos dias na água doce ou salgada, tornando-se um fertilizante natural. O objeto, assinado pelos designers curitibanos Mauricio Noronha e Rodrigo Brenner, do Furf Design Studio, ganhou neste ano o iF Design Award de 2024, em Berlim, considerado o "Oscar do Design" mundial.

O material é fabricado pela startup paranaense Mush, a primeira empresa da América Latina a utilizar o micélio do cogumelo, ou seja, o enraizamento do fungo, para fabricar cerca de 25 produtos, entre embalagens, materiais de construção civil e objetos de decoração.

O processo começou em 2019 quando os sócios Eduardo Sydney, Leandro Oshiro e Antonio Carlos de Francisco pesquisavam na Universidade Tecnológica Federal do Paraná a produção de embalagens sustentáveis a partir de fungos. Em 2021, incubaram uma planta piloto na universidade, receberam investimentos, e inauguraram uma fábrica totalmente circular e sustentável.

Os micélios usados pela Mush crescem e se multiplicam a partir de subprodutos agrícolas - os resíduos que seriam descartados pela agroindústria, como cascas de sementes de grãos, pó de serragem e bagaço de cana. A partir daí, misturados em laboratório, tornam-se uma espécie de cola natural que pode ser colocada em moldes, onde expande e vira embalagem semelhante ao isopor. As "mushpacks", como são conhecidas, são 100% biodegradáveis e, ao serem descartadas na terra, tornam-se adubo.

"Para fabricar 1 kg de isopor são necessários 180 litros de água. Para 1 kg de mushpack, são 10 litros de água. A mesma quantidade de isopor emite 12,5 kg de CO2 na atmosfera. O mushpack é negativo em emissões, ou seja, ele consome 1 kg de CO2 em vez de emitir", explica Ubiratan Gomes de Carvalho Sá, CEO da Mush.

A fábrica com sede em Ponta Grossa (PR) produz hoje cerca de 1 tonelada de material por mês e tem capacidade de chegar a 2,5 toneladas. No final do ano passado, recebeu um aporte de R$ 900 mil da Irani, e tem chamado a atenção de diversas empresas maiores preocupadas em diminuir o impacto ambiental especialmente de suas embalagens. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, no Brasil, aproximadamente um quinto do lixo é composto por embalagens. São 25 mil toneladas de embalagens que vão parar, todos os dias, nos depósitos de lixo. Esse volume encheria mais de dois mil caminhões de lixo, que, colocados um atrás do outro, ocupariam quase 20 quilômetros de estrada.

A Mush tem hoje parcerias com arquitetos, designers e deve fechar também com fábricas de outros produtos, como uma cervejaria, que cederá o malte para se tornar subproduto de mushpacks. A projeção da startup é dobrar seu faturamento ainda neste ano. "O que fazemos está incorporado no ciclo infinito da vida", resume o CEO da empresa.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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