Mariana Sgarioni

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Economia do cuidado pode mudar o PIB de países, diz especialista

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O mercado de trabalho só existe como conhecemos porque ele conta com bastidores. Para que esta roda possa girar, milhares de pessoas ficam em casa cuidando de crianças, idosos, preparando refeições, e fazendo limpeza doméstica. Até pouco tempo, estas pessoas não eram contabilizadas em nenhum indicador. Porém, com o envelhecimento da população, especialistas apontam que a chamada economia do cuidado precisa de investimento, uma vez que ela é capaz de mudar os ponteiros dos cofres de empresas e nações.

Segundo Camila Santos, head de projetos na B4People, consultoria especializada em estratégias de ESG, equidade, inclusão e gestão das diversidades nas organizações, além de ser um direito universal, o cuidado sustenta a economia. "Em 2023, um em cada quatro cuidadores empregados no mercado (mães, por exemplo) relataram ausência do trabalho formal para se dedicar aos cuidados de alguém. Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), isso impacta R$5,6 mil dólares por pessoa por ano. Se não houver um regime de benefícios flexível, as empresas podem perder muito dinheiro, cada vez mais", observa.

Camila mostra que, neste ano, o Fórum Econômico Mundial lançou o relatório "O Futuro da Economia do Cuidado" em que descreve caminhos para que governos e empresas possam tornar os cuidados uma prioridade econômica. Segundo o Fórum, se houvesse investimentos em empregos sociais, o que inclui os cuidados, o PIB global triplicaria. Nos Estados Unidos, os cuidados representam um mercado de US$ 648 milhões.

De acordo com a OIT, cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo trabalham como cuidadores em tempo integral, mas sem remuneração, o que representa uma perda de 9% do PIB global - um número que chegaria a US$ 11 bilhões por ano. Na América Latina, estima-se que essa porcentagem esteja entre 15% a 24%, algo em torno de um quarto do PIB. "É um efeito em cascata: estas pessoas não progridem em suas carreiras ou estudos. Com isso, não têm poder de compra, nem mobilidade social. Isso impacta diretamente a economia", analisa.

Estes trabalhos tidos como "invisíveis" se impõem como uma necessidade cada vez mais relevante no mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que, até 2030, o número de pessoas com 60 anos ou mais aumentará 40%, e duplicará até 2050, o que exigirá mais pessoas para cuidar delas. Se não houver um investimento nestes cuidadores, os idosos precisarão ser atendidos por quem estiver na ativa do mercado de trabalho.

"Quando alguém adoece, por exemplo, é quase automático que um familiar pare de trabalhar para cuidar desta pessoa. Este trabalho por enquanto ainda é muito restrito à família, é tratado como assistencial, algo menos importante. Mas os números mostram que não é. Trata-se de um direito humano básico e que diz respeito não apenas às famílias, ou, pior ainda, às mulheres: é uma questão de políticas públicas e também do ESG das empresas. Os pacotes de benefícios precisam prever estes cuidados", finaliza.

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