Agosto lilás: como empresas podem diminuir a violência contra mulheres
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As mulheres que sofrem violência - dentro ou fora do mundo corporativo - precisam ser ouvidas e acolhidas em todos os espaços, principalmente no ambiente de trabalho. Esta é uma forma relevante do setor privado colaborar com a segurança pública, além de reduzir o número de feminicídios e violência no país.
Neste mês de agosto, em que o governo federal lançou a campanha Agosto Lilás, em uma tentativa de conscientizar a população para o combate à violência contra mulheres, muitas organizações passaram a levar o tema para suas agendas ESG na tentativa de reduzir números preocupantes: segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, houve um aumento de todas as formas de violência contra mulheres em 2023. O país atingiu a marca de um estupro a cada seis minutos.
"As empresas também têm responsabilidade sobre este assunto, não é apenas o poder público. Além de ter políticas internas de auxílio para estas mulheres, como colocar o departamento jurídico à disposição, flexibilizar horários, facilitar a recolocação, as organizações deveriam se unir para cobrar políticas públicas mais firmes", observa Mayra Cotta, advogada especializada em gênero e sócia-fundadora da Veredas, consultoria em direitos humanos. Entretanto, o mais importante neste caso é a companhia estar de olhos bem abertos. "As organizações precisam mostrar que se importam de fato com as mulheres. Isso é o mais difícil".
Mayra comenta que boa parte do mundo corporativo vive hoje a chamada "fadiga de gênero" - uma falta de disposição para lidar com um problema que acreditam já ter sido resolvido faz tempo. "É muito comum ouvirmos: aqui dentro não existe mais nenhuma diferença de gênero, isso é algo do passado, que já não existe mais. Pena que não é o que mostram os números", diz. Levantamento feito pelos pelos ministérios das Mulheres e do Trabalho e Emprego, em março deste ano, apontou que, apesar das políticas de incentivo, as mulheres ainda ganham 19,4% a menos do que os homens no Brasil. Em cargos de liderança, esta diferença chega a 25,2%.
Segundo a advogada, o principal obstáculo enfrentado pelas mulheres no mercado é a maternidade e a sobrecarga por conta dos cuidados. De acordo com o IBGE, 90% do trabalho de cuidado no Brasil, incluindo bebês e idosos, é feito informalmente pelas famílias - desse total, quase 85% é conduzido por mulheres.
O segundo grande problema para as mulheres no trabalho é o assédio, principalmente o sexual, que ainda é subnotificado. "Apesar de existir uma lei que obriga as empresas terem um canal de denúncias, os números seguem aumentando porque estes canais não funcionam: na maioria das vezes, não há garantia de sigilo e não retaliação, por exemplo".
Pesquisa recente global da consultoria Deloitte apontou que 40% das brasileiras afirmaram já terem sofrido assédio sexual no trabalho. Entre elas, 60% disseram que não relataram o que aconteceu. O mapeamento diz que 49% das mulheres brasileiras estão preocupadas com a própria segurança no trabalho, incluindo viagens profissionais.
"Além de não ser seguro, o mercado de trabalho ainda é um ambiente hostil para as mulheres. Quanto mais poder estas mulheres vão alcançando, a hostilidade vai aumentando. Isso não acontece porque os homens se reuniram e decidiram ser violentos. Acontece porque há uma estrutura que é reproduzida em todos os espaços. Então é preciso olhar para soluções estruturais. O que, afinal, inviabiliza a vida das mulheres no trabalho formal? É esta questão que deve estar na mesa das agendas ESG no momento".
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