Mariana Sgarioni

Mariana Sgarioni

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Píer flutuante vai ajudar navegação durante seca no Amazonas

As águas do rio Amazonas estão descendo cada vez mais rápido. De forma preocupante, o maior e mais caudaloso rio do mundo tem baixado cerca de 18 a 20 centímetros por dia. Autoridades já soaram o alerta e preveem a possibilidade de um período de seca histórico nos próximos meses.

Com a estiagem chegando meses antes do período previsto - em geral, ela acontece a partir de outubro -, a navegação, principal transporte de cargas utilizado na região, fica restrito, prejudicando com gravidade a economia. Para minimizar estes impactos, a Norcoast, empresa brasileira de navegação costeira, anunciou uma solução criativa: a instalação de um píer gigante na região de Itacoatiara (AM), que deve mitigar o problema.

O píer flutuante de 240 metros de comprimento e 24 metros de largura deverá ficar posicionado antes de dois pontos considerados críticos no rio Amazonas (Tabocal e Enseada do Rio Madeira), que, na época de estiagem, não têm profundidade suficiente para a passagem dos navios. As embarcações deverão atracar no píer, onde três guindastes, com braços de 64 metros, farão a retirada dos contêineres e os posicionarão em balsas para que sigam viagem.

"Esperamos desde o ano passado uma resposta do governo para dragagem dos rios que não aconteceu. Como o cenário é pessimista, com eventos extremos previstos, montamos uma operação de guerra. É uma solução de emergência para estancar a crise, mas sabemos que isso não vai resolvê-la definitivamente", afirma Gustavo Paschoa, CEO da Norcoast.

Na região amazônica, as estradas são os rios, e é por meio deles que ocorre toda a dinâmica da economia. O transporte hidroviário é praticamente a única alternativa, tendo em vista que as rodovias são bastante restritas. Segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a Região Hidrográfica Amazônica transportou mais de 71 milhões de toneladas de cargas só no ano passado, e o Rio Amazonas é a principal via utilizada, tendo transportando mais de 34 milhões de toneladas de mercadorias, incluindo alimentos, materiais de construção, insumos para a indústria, combustíveis, entre outros.

Com as restrições à navegação costeira de cabotagem devido às secas, todo o restante do transporte nacional acaba sendo afetado. "Dependemos do rio para chegar em Manaus, pois tudo entra e sai pelo Amazonas. Ao atracarem menos navios no porto de Manaus, há um efeito cascata: outros portos, que já sofrem com falta de infraestrutura, ficam congestionados, como Santos. Além disso, com a falta de navios, serão necessários mais caminhões rodando nas estradas, mais trânsito, mais acidentes, mais emissão de carbono", observa Paschoa. Segundo ele, a navegação de cabotagem é cerca de 15% a 25% mais barata em relação ao transporte rodoviário, além de poluir 4 vezes menos e ser 10 vezes mais segura. "Precisamos transformar nossos rios em hidrovias, com condições adequadas de navegação".

O píer flutuante da Norcoast está previsto para entrar em funcionamento na segunda quinzena de setembro. Os módulos, que já operam em Manaus, funcionarão com geradores e serão levados para Itacoatiara, onde precisarão ser amarrados no fundo do rio. "Agora é contagem regressiva, pois a água já está baixando. Estamos nos preparando para o pior".

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.