Píer flutuante vai ajudar navegação durante seca no Amazonas
As águas do rio Amazonas estão descendo cada vez mais rápido. De forma preocupante, o maior e mais caudaloso rio do mundo tem baixado cerca de 18 a 20 centímetros por dia. Autoridades já soaram o alerta e preveem a possibilidade de um período de seca histórico nos próximos meses.
Com a estiagem chegando meses antes do período previsto - em geral, ela acontece a partir de outubro -, a navegação, principal transporte de cargas utilizado na região, fica restrito, prejudicando com gravidade a economia. Para minimizar estes impactos, a Norcoast, empresa brasileira de navegação costeira, anunciou uma solução criativa: a instalação de um píer gigante na região de Itacoatiara (AM), que deve mitigar o problema.
O píer flutuante de 240 metros de comprimento e 24 metros de largura deverá ficar posicionado antes de dois pontos considerados críticos no rio Amazonas (Tabocal e Enseada do Rio Madeira), que, na época de estiagem, não têm profundidade suficiente para a passagem dos navios. As embarcações deverão atracar no píer, onde três guindastes, com braços de 64 metros, farão a retirada dos contêineres e os posicionarão em balsas para que sigam viagem.
"Esperamos desde o ano passado uma resposta do governo para dragagem dos rios que não aconteceu. Como o cenário é pessimista, com eventos extremos previstos, montamos uma operação de guerra. É uma solução de emergência para estancar a crise, mas sabemos que isso não vai resolvê-la definitivamente", afirma Gustavo Paschoa, CEO da Norcoast.
Na região amazônica, as estradas são os rios, e é por meio deles que ocorre toda a dinâmica da economia. O transporte hidroviário é praticamente a única alternativa, tendo em vista que as rodovias são bastante restritas. Segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a Região Hidrográfica Amazônica transportou mais de 71 milhões de toneladas de cargas só no ano passado, e o Rio Amazonas é a principal via utilizada, tendo transportando mais de 34 milhões de toneladas de mercadorias, incluindo alimentos, materiais de construção, insumos para a indústria, combustíveis, entre outros.
Com as restrições à navegação costeira de cabotagem devido às secas, todo o restante do transporte nacional acaba sendo afetado. "Dependemos do rio para chegar em Manaus, pois tudo entra e sai pelo Amazonas. Ao atracarem menos navios no porto de Manaus, há um efeito cascata: outros portos, que já sofrem com falta de infraestrutura, ficam congestionados, como Santos. Além disso, com a falta de navios, serão necessários mais caminhões rodando nas estradas, mais trânsito, mais acidentes, mais emissão de carbono", observa Paschoa. Segundo ele, a navegação de cabotagem é cerca de 15% a 25% mais barata em relação ao transporte rodoviário, além de poluir 4 vezes menos e ser 10 vezes mais segura. "Precisamos transformar nossos rios em hidrovias, com condições adequadas de navegação".
O píer flutuante da Norcoast está previsto para entrar em funcionamento na segunda quinzena de setembro. Os módulos, que já operam em Manaus, funcionarão com geradores e serão levados para Itacoatiara, onde precisarão ser amarrados no fundo do rio. "Agora é contagem regressiva, pois a água já está baixando. Estamos nos preparando para o pior".
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